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Nenhures

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(Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo)

Ontem, 13 de Março, passaram-se 3 anos exactos!: a minha filha chegou de Inglaterra, onde a sua universidade encerrava por todo aquele ano lectivo, eu recebi-a num misto de angústia - aquela que presumo todos os pais terem sentido nessa época, ainda desconhecedores dos efeitos que a nova doença teria entre os jovens - e de ira, pois acolhendo-a num aeroporto pejado de turistas ingleses que vinham ao Sol do Algarve, e sabendo que os paquetes apinhados ainda atracavam ao Tejo..., isto tudo entre as já trapalhadas da futura "Super-Marta" (que agora se anuncia "para Lisboa"!), sua dra. Graça ("visitai os lares de terceira idade", clamara ela nessa mesma semana) e restantes dignitários... Saímos da Portela logo rumo a Sul do Tejo, e confinámo-nos junto a um grupo de amigos que já se tinham encerrado há já uma semana, abrindo o portão apenas para que nós entrássemos - Amigos-Irmãos, verdadeiramente.
 
 
 

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"On the road", esta assim encrespada, enquanto na rádio o velho Slowhand entoa a lendária "Wonderful Tonight", aquela do fantástico meneio "and the wonder of it all / Is that you just don't realize how much I love you". Depois, meter a primeira e avante...!, sacudindo o vislumbre do passado.

Eric Clapton - Wonderful Tonight [Official Live In San Diego]

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vai vigorando um pensamento algo "lite", pois psicologista, que quer reduzir a desvalorização de uns quaisquer outros ao "medo" sentido diante do "diferente", da "alteridade": o machismo como receio do vigor das mulheres, qual síndrome fálico; o elitismo como temor da pujança das massas, vera obsessão de condomínio; o racismo como pavor diante das gentes ditas "outras", assim impuras, como se compulsão higiénica. E até a heterossexualidade, agora dita heteronormatividade - mas nunca heterossexualismo -, tende a ser desvalida como vil sublimação do homoerotização.
 
Nas lutas contra essas desqualificações, punitivas, instalou-se uma atenta crítica dos discursos e termos, sob a ideia de que a realidade se constrói na "fala" - até crente que as palavras têm valor facial, cristalino, e que compelem a reacções unívocas. Enfim, uma simplificação do que alguns pensadores chama(ra)m "construtivismo" - a ideia de que isto que somos e vivemos se construiu e vai construindo nos afazeres do quotidiano até impensado. E - nessa visão mais militante, agora dita "activista" - que nós todos não apreendemos essa "construção", suas ambivalências, rugosidades, polissemias, dela sendo meros reflexos. Ou seja, que seguimos "alienados", como se dizia quando eu era mais novo e os agora "pós-"marxistas eram marxistas...
 
 
 

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Custou-me mas já me habituei a isto de o corpo se ir tornando menos capaz - ainda que por vezes me surpreenda com alguns cometimentos havidos. Mas sim, foi-se impondo isto do calcanhar resmungão se em longas caminhadas, do arfar de fumador durante as escadarias, do esvaecer dentário, talvez pior ainda esta breve hesitação ao despertar, e mesmo do adormecer no sofá enquanto o Sporting joga, da parcimónia loquaz, já para não falar da crescente frugalidade à mesa - que a essa vou disfarçando com paleios gastronómicos - e até outras, próprias ao sossego desencantado do celibato perpétuo.
 
Mas que a mente feneça, no primado da desconcentração e, mais sonante ainda, na atrapalhação da memória? São muito mais assustadores os sinais, sinto-os como temidos sintomas. Nem digo isso de esquecer o nome do filme distraidamente visto na véspera, coisa normal desde há muito, ou do título do livro diante do "o que é que estás a ler?", pois faço-o a vários ao mesmo tempo, sei lá o que responder... Mas esquecer pessoas, não as reconhecer? A aflição instala-se.
 
 
 

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Num recente domingo soalheiro apetecidas razões familiares levaram-me a passear por Carcavelos. Não só junto à praia mas também pude conhecer o "campus" da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova - instituição estatal que, por razões que desconheço, se apresenta sob nome em língua estrangeira... Mas esse pormaior não me fez distrair do fundamental, reconhecer umas excelentes instalações, até me tendo permitido, apesar de leigo na matéria, a saudar a arquitectura daquela unidade. Algo que, ao que ali me constou por via de voz bastante bem informada, bem ombreia com a qualidade do ensino ministrado por um muito competente corpo docente. Imagine-se até que lá ensinam alguns antigos políticos, os quais, mesmo não sendo provenientes de uma carreira académica padronizada e - até ainda mais surpreendente - não sendo militantes do BE nem do MES, o fazem com notória excelência...
 
Enfim, depois de visitar com alguma delonga as espaçosas instalações, calcorreei as simpáticas imediações, um bairro residencial muitíssimo aprazível, pontilhado de uma adequada toponímia, como exemplificam a rua Carlos Lopes (o imortal campeão) e avenida Francisco Lucas Pires (um excelso político injustiçado por uma morte precoce).
 
 
 

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