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Nenhures

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A popular apresentadora de televisão foi acolhida na Assembleia da República, na qual defendeu a regulação dos conteúdos das "redes sociais". Presumo que a verdadeira "namorada de Portugal" esteja ainda desiludida com a revogação dos preceitos mais "controleiros" da lei - dita "Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital" - que o (ex-)deputado socialista Magalhães havia tentado estipular - e que haviam desagradado aos malvados adoradores do Algoritmo, ao próprio Presidente da República, reconhecido instangrameiro, e, presumia-se, aos tuíteristas do Tribunal Constitucional. Ciosa defensora da pluralidade informativa e da ética republicana na comunicação social, Ferreira, ela própria com responsabilidades directivas televisivas, estará preocupada com os processos monopolistas decorrendo nesses meios, sempre em prol de uma efectiva liberdade de informação promovida por uma comunicação social livre de pressões políticas, ameaçada que tal liberdade está pelo verdadeiro vazio legislativo existente.

Entretanto, Ferreira, que em tempos idos deixara no ar a hipótese de se candidatar a Belém, vai já pavimentando esse caminho. Presumo que para esse desiderato contará com o apoio do ilustre Senador, antigo cabeça de lista nacional escolhido pelo então primeiro-ministro José Sócrates, cônjuge de membro dos governos por aquele capitaneados e actual colega europarlamentar de Silva Pereira - entre outros -, e que do alto da sua (senatorial) experiência política nos alerta para o processo em curso, que será alimentado pelas tais "redes sociais" e pela imprensa "monopolizada". Processo no qual "o Ministério Público, entretido que está na sua guerrilha diária contra o Governo e os políticos, por via do seu órgão oficioso, o Correio da Manhã," minam a democracia, tal como ela deve ser. Esperemos então pelo pacote legislativo que nos defenderá da perfídia ôntica da ralé das "redes" e dos ilegítimos anseios dos capitalistas da comunicação social.

(Postal para o Delito de Opinião)

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O ataque em curso ao sítio b-ok e seus múltiplos locais é uma pérfida manobra do capital corporativo. O livre acesso impõe-se. E não me venham falar de direitos autorais... Cobrar dezenas de dólares pelo acesso a artigos científicos com décadas, por exemplo? Exigir filiações institucionais para aceder aos corpos bibliográficos? Explorar os financiamentos estatais às universidades? Inaceitável. 

Posto de outra forma: o b-ok é uma preciosa, inestimável, fonte da democratização do saber. Não é "pirata", é corsário!!!!

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Há um bom par de anos que chamei a este facebook a "likeland", a terra onde partilhamos aprazíveis "gostares", uma verdadeira "utopia" de bem-estar moral. Não é um defeito, é uma saudável panaceia que nos intervala os males do mundo. Cada vez isso mais me é visível, pelo menos no nicho das interacções que o algoritmo anima entre as minhas milhares de ligações - os "amigos-FB" com os quais interajo, neste "comércio" mais ou menos frequente de "sorrisos", "anuências" e "saudações", os "likes" (e "comentários"), que (n)os vão fazendo verdadeiros vizinhos, pois nomes que se me vão tornando conhecidos mesmo que nos desconheçamos na vida real, essa incómoda "real land", tópica.
 
Mais percebo isso pois as nossas características, as desta minha "comunidade" de entreajuda moral, a dos envolvidos neste nosso (quase)diário "estamos juntos", que se quer avessa à solidão - mesmo que enfrente apenas o "sozinhismo" -, implica que me acolhem com ruído prazeroso e solidário, e assim basto "gostável", as novas e notas da minha vida: uns dizeres sobre o meu Sporting, ecos de uma patuscada entre amigos reais, um resmungo com a minha ciática que afinal também é gota mas esta, afinal e vá lá, é apenas um entorse, ainda que bastante incomodativo, um sucesso da minha (magnífica) filha, um livrito para o qual me consegui concentrar, uma memória do "meu" Moçambique, uma nota sobre um bom filme visto na TV ou sobre uma tasca que descobri, uma piada menos brejeira que recebi no Whatsapp. E algum, escasso, etc.
 
Já algo oposta é a reacção se me ponho a opinar, ou a ecoar opiniões alheias, sobre os "males do mundo", os da tal "real land". As quais vou percebendo como uma violação do protocolo que nos une aqui, neste espaço de suspensão das preocupações e querelas, essas que preenchem a vida e, também, os dizeres nas "rádio, tv, disco e cassete pirata" que nos inundam o quotidiano. Que colhem um silêncio que não será exactamente uma discordância comigo ou com a minha forma - pois para isso há o "desamigar", o neologismo daqui - mas muito mais um até mudo "ó amigo/vizinho Teixeira, deixe-se disso, quer falar de coisas sérias, incómodas? Guarde isso para os blogs, homem...". Ou, até, "para si...", num "já viu como está a sua vida? Estivesse estado você calado...!", que é coisa que não é raro dizerem-me os da "vida real".
 
Enfim, resta-me anuir a este nosso protocolo (numa concordância ao velho mandamento "se está mal mude-se"). Aceitar esta nossa prazerosa "likeland" tal qual ela é - ainda que consciente e convicto de que esta terra não é a Cocanha.
 
Mas ainda assim deixo, pois renitente, uma citação que Paulo Sousa colocou agora no Delito De Opinião, sobre esta nossa terra Portugal. Um excerto de um texto que não é de um furioso esquerdista nem de um paladino do professor Ventura, nem de um publicista da sempre pérfida "oposição". É de Ricardo Costa, director do tão institucional de alinhado "Expresso" e também irmão do nosso primeiro-ministro desde 2015. Deixo-a aqui, à transcrição, sabendo que poucos "gostarão" dela. E que, pior ainda, poucos nela atentarão. Pois afronta o sossego identitário de tantos dos "vizinhos":
 

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Uma familiar muito próxima está a fazer mudanças em casa. Na sua constante azáfama pediu-me ajuda para se libertar de alguns itens através da célebre OLX (mobiliário, roupas, livros e brinquedos em bom estado, pois as crianças vão para adolescentes).
 
Assim estou a fazer. Acabo de colocar anúncios (na conta dela daquela plataforma, note-se) de dois tapetes (belgas, 2,30X170, em excelente estado, para quem se possa interessar), a preços muito decentes.
 
Levanto-me, vou fazer um café, enrolo o primeiro cigarro do dia (duas horas e meia depois de acordar, não está mal...). Regresso ao ecrã e abro o Facebook para enquanto fumo. O meu mural está encimado pelo anúncio de uma "Feira de Tapetes" digital...
 
Não há dúvida, um tipo é vasculhado até ao âmago. Até ir ao tapete, por assim dizer...

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