LM e as Redes Sociais
A propósito do meu último postal já me disseram ser o assunto mero "folclore", pois a única relevância política actual é o "orçamento". Eu vou ao invés, o orçamento é uma minudência, passa com o tempo curto (em princípio anual), enquanto os actos do tal "folclore" imprimem no povo (o "eleitorado") as concepções que tem sobre este eixo partidário e seus agentes, a percepção que tem do "regime".
Há dias o PM LM veio falar sobre comunicação social. Anunciou algo com o qual concordo, a retirada do serviço público televisivo do mercado publicitário. O fim de 30 anos de desfaçatez estatista: abrir a actividade televisiva à iniciativa privada e depois usar os recursos públicos (impostos directos e atribuições via erário público) para sustentar a concorrência com essas empresas. E o final dessa compita pelas receitas publicitárias implicará uma menor determinação dos conteúdos pelos ganhos de audiência - e sim, tal como disse um ministro, não tem qualquer justificação que um "serviço público" encha o "horário nobre" com concursos sobre os preços dos produtos (o euro já tem um quarto de século, já nos habituámos aos preços...). Nem que se preencha com "telenovelas", sucessivos concursos de cantorias (por agradável à vista que seja Catarina Furtado) ou programas de conversa-mole. E também tem alguma lógica que haja apoio estatal aos diferentes órgãos de comunicação social privados - desde que não seja daquela forma trôpega (ou torpe?) que aconteceu durante o Covid. Pois uma informação livre - e nacional - é importantíssima.
Mas essas boas medidas quase se apagam diante do evidente espalhanço - não só ideológico mas também político - de LM quando apontou as "redes sociais" (blogs incluídos) como difusoras da infecção falsária, contrapondo-as à virtude sanitária da comunicação social. Dou poucos exemplos entre tantos que poderão questionar a pertinência deste atrevimento primo-ministerial: o jornal "Expresso", dito instituição, publicou há pouco a notícia "Almirante [Gouveia e Melo] quer mais dois submarinos para ficar na Armada e desistir de Belém" - desta nem as tais falsárias "redes sociais" se lembraram. O outro jornal lisboeta de "referência", "Público", contratou recentemente como constante colunista o ex-ministro socialista Adão e Silva. Esse que era um dos alimentadores do frenético bloguismo (aliás, "redes sociais") anónimo ou subscrito que defendeu até ao limite o socratismo - virtuoso jornalismo? Entretanto, na SIC, a belíssima Clara de Sousa desde há anos que leva pela mão a proto-candidatura presidencial de Marques Mendes, sempre "como quem não quer a coisa" - virtude? Ou "virtuosismo"? E também se pode falar do próprio "serviço público", onde jornalistas menos "controláveis" são afastados, depois de anos de pressões da hierarquia (e até do feixe de "elegantes" administradores não-executivos externos à casa). Já agora, há dias o "Observador" - de "direita", afiançam alguns, exasperados ou esperançados - deu uma hora de entrevista a um antigo presidente de junta de freguesia (quantos haverá neste país, sem serem entrevistados?), aquele eleito por uma urna negra. E nem sequer abordo o gigantesco painel de boatos, economicamente determinados, apresentados na imprensa desportiva, vigentes sem qualquer resmungo deontológico oriundo da "classe".
Enfim, é enorme o rol de falsidades e manipulações políticas - e outras - patentes na comunicação social. Enorme e histórico. Está pois muito mal Luís Montenegro quando investe contra nós-povo e louvaminhando, por contraposição, quem segue assim... Pois nós, os das "redes sociais", com os nossos erros, limitações, até malevolências, pelo menos não ganhamos dinheiro com isso. Os videirinhos são os outros...