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Nenhures

Nenhures

12
Out24

LM e as Redes Sociais

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A propósito do meu último postal já me disseram ser o assunto mero "folclore", pois a única relevância política actual é o "orçamento". Eu vou ao invés, o orçamento é uma minudência, passa com o tempo curto (em princípio anual), enquanto os actos do tal "folclore" imprimem no povo (o "eleitorado") as concepções que tem sobre este eixo partidário e seus agentes, a percepção que tem do "regime".

Há dias o PM LM veio falar sobre comunicação social. Anunciou algo com o qual concordo, a retirada do serviço público televisivo do mercado publicitário. O fim de 30 anos de desfaçatez estatista: abrir a actividade televisiva à iniciativa privada e depois usar os recursos públicos (impostos directos e atribuições via erário público) para sustentar a concorrência com essas empresas. E o final dessa compita pelas receitas publicitárias implicará uma menor determinação dos conteúdos pelos ganhos de audiência - e sim, tal como disse um ministro, não tem qualquer justificação que um "serviço público" encha o "horário nobre" com concursos sobre os preços dos produtos (o euro já tem um quarto de século, já nos habituámos aos preços...). Nem que se preencha com "telenovelas", sucessivos concursos de cantorias (por agradável à vista que seja Catarina Furtado) ou programas de conversa-mole. E também tem alguma lógica que haja apoio estatal aos diferentes órgãos de comunicação social privados - desde que não seja daquela forma trôpega (ou torpe?) que aconteceu durante o Covid. Pois uma informação livre - e nacional - é importantíssima.

Mas essas boas medidas quase se apagam diante do evidente espalhanço - não só ideológico mas também político - de LM quando apontou as "redes sociais" (blogs incluídos) como difusoras da infecção falsária, contrapondo-as à virtude sanitária da comunicação social. Dou poucos exemplos entre tantos que poderão questionar a pertinência deste atrevimento primo-ministerial: o jornal "Expresso", dito instituição, publicou há pouco a notícia "Almirante [Gouveia e Melo] quer mais  dois submarinos para ficar na Armada e desistir de Belém" - desta nem as tais falsárias "redes sociais" se lembraram. O outro jornal lisboeta de "referência", "Público", contratou recentemente como constante colunista o ex-ministro socialista Adão e Silva. Esse que era um  dos alimentadores do frenético bloguismo (aliás, "redes sociais") anónimo ou subscrito que defendeu até ao limite o socratismo - virtuoso jornalismo? Entretanto, na SIC, a belíssima Clara de Sousa desde há anos que leva pela mão a proto-candidatura presidencial de Marques Mendes, sempre "como quem não quer a coisa" - virtude? Ou "virtuosismo"? E também se pode falar do próprio "serviço público", onde jornalistas menos "controláveis" são afastados, depois de anos de pressões da hierarquia (e até do feixe de "elegantes" administradores não-executivos externos à casa). Já agora, há dias o "Observador" - de "direita", afiançam alguns, exasperados ou esperançados - deu uma hora de entrevista a um antigo  presidente de junta de freguesia (quantos haverá neste país, sem serem entrevistados?), aquele eleito por uma urna negra. E nem sequer abordo o gigantesco painel de boatos, economicamente determinados, apresentados na imprensa desportiva, vigentes sem qualquer resmungo deontológico oriundo da "classe".

Enfim, é enorme o rol de falsidades e manipulações políticas - e outras - patentes na comunicação social. Enorme e histórico. Está pois muito mal Luís Montenegro quando investe contra nós-povo e louvaminhando, por contraposição, quem segue assim... Pois nós, os das "redes sociais", com os nossos erros, limitações, até malevolências, pelo menos não ganhamos dinheiro com isso. Os videirinhos são os outros...

08
Jul24

O Determismo Reducionista

jpt

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Através das "redes sociais" (pérfidos instrumentos de alienação, como adiante se verá) dois amigos enviam-me declarações de teor político emanadas agora por três romancistas. Um enviou-me o texto no "El País" com breve entrevista de Michel Houellebecq sobre as eleições francesas de hoje, na qual ele - enquanto, até distraidamente, deixa cair o seu sentido de voto avesso ao pacote lepenista - se declara "pessimista e resignado" e avança, ainda que num registo conversacional algo superficial, algumas causas sociológicas para a complexa deriva francesa.
 
Outra amiga, cruel, enviou-me o "Expresso", em óbvio convite para que eu lesse os artigos de Miguel Sousa Tavares e Clara Ferreira Alves, que há décadas acompanham os nichos de classe média leitora do semanário. São duas, longas (estes colunistas têm direito a página inteira), bojardas, ignaras, nisto até indignas. Pouco francesas, dir-se-ia se comparando com o exemplo anterior. Aquilo a que décadas atrás, quando se discutia o efeito do marxismo, se chamava "determinismo", "reducionismo economicista (tecnológico)". Os dois "fazedores de opiniões" dos licenciados lusos de meia-idade e seniores, abordam as eleições mundiais actuais, atribuindo a viragem "à direita" à perniciosa e malévola influência das redes sociais, à instrumentalização executada pelos seus magnatas. CFA centra-se no debate presidencial americano e vê o evidente colapso democrata como causado pelos tais magnatas - nem um caractere sobre as características do plutocrata sistema político americano, sobre a sua socioeconomia, sobre a degenerescência do partido democrata, sobre a sua incapacidade de gerar em XXI candidatos e ideários. Pois a "culpa" é das redes sociais.
 
MST insurge-se contra este generalizado "Triunfo dos ressabiados". Diante deste seu título logo me lembro de quando há uma década voltei ao país e encontrei esta constante utilização por parte dos socialistas e seus compagnons de route. Todos nós, que vozeávamos contra o miserável socratismo e a cáfila dos seus apoiantes, éramos ditos "ressentidos" e "ressabiados" - um antigo meu colega e, depois, chefe, teve até a descarada lata de cortar relações comigo, por razões "políticas", usando esses termos. Ou seja, todos os que nos opunhamos a este lamaçal antidesenvolvimentista sofreríamos de doenças de foro psicológico, por causas psicóticas (o "ressentimento") ou orgânicas (o "ressaibo"). Era - e essa escumalha socratista, estadodependente, nem o percebia - a tradução lusa, nos nossos propalados "brandos costumes", da velha prática soviética: os "dissidentes" eram doentes psíquicos e deviam ser internados em hospícios.
 
E MST vem agora preencher mais uma das suas páginas de "Expresso" com estes disparates, tão queridos dos tais leitores "classe-média". Aborda um feixe de eleições recentes (e manipula tanto que foge a referir as últimas eleições britânicas que não lhe dariam jeito ao ditirambo), funda os seus resultados no "algoritmo" das redes sociais, atribui a "viragem à direita" à ignorância dos povos, dos jovens e, claro, ... à ultrapassagem da mediação dos jornalistas. Ou seja, antes é que era bom, reinava a "iluminação" global.
 
Entretanto os imbecis, licenciados, continuam a comprar esta tralha "Expresso". E, pior, a ler estes "intelectuais" da treta. E consomem os produtos que publicitam no douto semanário.
 
E nós outros, "ressentidos" e "ressabiados", chafurdamos, orgásticos, sob o Algoritmo.
 
(Adenda: nesta segunda-feira, e diante destes dois textos dos conhecidos colunistas e comentadores televisivos, apetece perguntar o que terá acontecido ao Algoritmo britânico - na quinta-feira - e ao Algoritmo francês - ontem, domingo. Enfim, como a realidade mostra a vacuidade destes textos).

06
Jun24

Censurado no Facebook

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Abri a minha conta no FB em 2009. Quem vem passando por aqui sabe o feixe de coisas que vou publicando: a maioria são ou ligações a textos de blog ou transcrições dos postais que lá coloco. E também saberá o teor dos conteúdos e o tipo de reacções que convocam: enceno comezainas, ululo futeboladas, narro coisas do dia-a-dia, e nisso colho umas dezenas de simpáticos acenos ("likes") e umas palmadas nas costas (comentários). Teço loas à família ou dela gemo saudades e aumenta a simpatia alheia. Boto umas coisas "culturais" e reduz a atenção alheia, num evidente "lá está este a armar-se...". Se avanço para a politiquice logo se impõe a indiferença alheia, que para isso o pessoal já tem os comentadeiros televisivos e aqui (FB) é para se descansar daquilo tudo. E se deixo apenas a ligação para um postal de blog ainda menos reacções tenho e menos leitores lá surgem (os blogs têm contadores, e identificam a origem dos visitantes....), pois a gente é renitente em evadir-se do lesto "scroll down" e a aventurar-se a outros "sites". Enfim, este ambiente permite-me perceber que esta rede não é um conjunto de "amigos" mas sim uma "vizinhança", deste tipo de interesses solidários feita.
 
Neste rame-rame que me lembre em 15 anos nunca tive uma publicação apagada pelo sistema-FB. Anteontem deixei aqui a ligação a um postal de blog, no qual abordava criticamente a actual presidência da república. Como é normal nestas minhas ligações teve poucas reacções/leitores (2/3 "gostos", 3 comentários, que me lembre).
 
Hoje de manhã, andava eu feito turista em Lisboa - tendo visto pela primeira vez esta estátua de António Vieira, que tanta e já esquecida polémica causara - e sentei-me a patuscar um brunch. E no telefone vi uma notificação do sistema-FB. Era ali avisado da minha estreia como censurado, pois a publicação sobre o nosso PR fora considerada como "violadora das regras da comunidade" e por isso apagada. A publicação era apenas a ligação para o postal "Marcelo: o estado a que isto chegou", que está nos blogs Delito De Opinião e Nenhures. Não tem o texto qualquer insulto ou calúnia, expressa apenas uma visão negativa do exercício presidencial.
 
Eu não acredito em teorias conspiratórias. E muito menos na existência de um "grande irmão" belenense, à cata de textos avessos para os apagar. Do que percebo do sistema-FB é que o erradicar daquela publicação (repito, a mera ligação para um texto curial de blog) se deveu a alguém que por aqui passou o tenha denunciado ao FB como aleivosia.
 
Enfim, um qualquer pobre diabo. E, ainda que ateu total, sirvo-me deste Vieira de crucifixo em punho para o esconjurar.
 
Adenda
 
Passaram já cinco dias sobre o apagamento da ligação a este meu postal sobre o PR (algo que aconteceu também a quem gentilmente partilhara essa ligação). O qual foi acompanhado de uma "reprimenda", um aviso de que se eu repetisse a propalada "violação dos padrões da comunidade" a minha conta seria suspensa. Escrevi para o sistema-FB mas não obtive resposta.
 
Posso comprovar que esta acção não se deveu a alguma decisão robótica, mas que deriva da intencionalidade de alguém, de uma "denúncia", talvez patética, decerto que apatetada. Explico:
 
há (muitos) anos eu e cinco amigos escrevíamos no blog ma-schamba. Para divulgarmos no FB as ligações aos postais criámos o grupo-FB ma-schamba. De todos o único que ainda bloga sou eu. Como o grupo é muito grande (quase 8000 inscritos) não o apaguei e tornei-o o Nenhures. E lá vou colocando as ligações aos postais do blog, ainda que consciente que seja algo redundante do meu mural. Ora nos grupos-FB só os inscritos é que têm acesso aos postais (e ligações) lá colocados. Lá havia colocado a ligação ao meu postal "Marcelo: o estado a que isto chegou". A qual ali não foi apagada. Ou seja, a putativa "violação aos padrões da comunidade" não adveio de uma qualquer reacção do autómato FB mas sim da denúncia de alguém que tem acesso aos murais pessoais mas não está inscrito no grupo Nenhures e como tal não viu essa ligação.
 
A esse pobre desalmado deixo uma recordação, adequada às celebrações de ontem: no dia do primeiro incêndio de Pedrógrão Grande, durante o qual tantos morreram queimados, no dito "horário nobre" (aliás, à hora do telejornal), seis a oito horas depois do deflagrar do fogo florestal, já MRS estava no local a dizer que "nada mais poderia ter sido feito", ladeando o polícia que afiançava ter já sido reconhecida a "responsável" por toda aquela desgraça, uma árvore que havia entrado em "combustão espontânea" (intitulando a malvada acção vegetal através de um termo em inglês, retórica "tecnocrática" bastante perceptível). Para indecência - política e pessoal - não haverá maior exemplo. E pode-se vasculhar todo o FB e restantes redes sociais, apagar ligações, postais e contas. Mas não se apaga isso. Nem com comemorações, discursos, condecorações e paradas.

03
Mar24

Fake News Tugas

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É consabido que desde há alguns anos os movimentos de extrema-direita - soberanistas, discriminatórios, genderófobos, fascizantes ou até mesmo fascistas, e também neoliberais (o que é mau é neoliberal, como também é bem sabido) - usam as possibilidades digitais para espalharem "inverdades", as antigas falsidades (ditas "fake news").
 
Em especial durante os períodos eleitorais somos inundados com estas aldrabices. E logo, de modo muito convicto, dignissímas mães de família, laboriosos pais de família, fidelíssimos filhos de família e recatadas filhas de família, acorrem aos seus múltiplos teclados aplaudindo as atoardas, apupando os visados, repassando tais dizeres aos seus vizinhos. Fazem-no com o mesmo afã que os neoliberais destroem os serviços nacionais de saúde, com o fito de matar os velhinhos e os adoentados. E se algum freguês da mesma freguesia os avisa, pacientemente, que estão enganados respondem, ríspidos e ufanos, se non è vero, è bene trovato... E nisso convocam os patifes que têm a mania dos factos para que metam a viola (esquerdista) no saco...!
 
Nos últimos dias essa fascista extrema-direita tem pululado na internet portuguesa. Em frenesim redistribuindo esta vilania cometida sobre o professor Ventura. Como é óbvio - ou deveria ser - para qualquer letrado, o ilustre prelado Tolentino (do qual tenho em casa alguns livros de auto-ajuda) nunca proferiu estes dizeres sobre o antigo comentador futebolístico, autarca de Loures e actual candidato à Assembleia da República.
 
E urge denunciar esta aleivosia da extrema-direita. Eu, por mim, não só o faço aqui, em defesa da democracia. E também, a bem da higiene digital, venho cortando as ligações (no FB) com os ordinários que partilham estas coisas.

28
Nov23

Enquanto leio "O Lírio Branco"

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Como me é costume aquando nas cercanias do Sado acordo ainda no breu. Depois, já na alvorada, interrompo a inutilidade para um café - gemo, pois já se me acabaram os pacotes de "Gorongosa" e "Vumba" que mãos amigas me haviam ofertado. Estou assim condenado a frascos de "grande superfície", e como é diferente um bom café destas quase chicórias dos pobres... (ainda se fosse Ricoffy, bem batido...). Fumo dois finos "Amber Leaf" e percorro o meu FB, o que cada vez faço menos e por menos tempo, e nesse gradual desprendimento é notório que não vou sozinho. Estou bem-disposto e partilho a minha simpatia através de um punhado de "gostos", face às aprazíveis colocações de alguns amigos.

Noto também várias publicações de há alguns dias - os "laiques" alheios vão-nas mantendo à tona, visíveis neste rosário múltiplo -, resmungando contra o 25 de Novembro. Sorrio, percebo o contexto social e etário dos indignados contra este "fascismo" novembrista, que tem o atrevimento de se celebrar. Na maioria são os "cidadãos com ADSE", esse peculiar universo ideológico. É gente já com implantes dentários, artroses, varizes, alguns artilhados com próteses coronárias, lambuzando-se com pílulas crónicas. Enfim, velhadas como eu, que se rejuvenescem no "ai, no meu tempo é que (quase) era...". E por isso encaro com quase ternura os dislates, tão convictos. E imagino-lhes as "comunas" de Terceira Idade, os comités revolucionários de Seniores, os piquetes d'Idosos, as brigadas Octogenárias ombreando com as Nonagenárias, tudo culminando com o Termidor do binómio cremação-cendrário. Pois todos somos cinza e à cinza voltaremos, anunciou um antigo, e isso independentemente dos disparates que para aqui dizemos...

Estou eu neste registo bíblico e lembro-me do meu pai, o Camarada Pimentel, ateu convicto, que me ensinou vastas coisas. Uma das quais foi o tão rico e apropriado termo "esquerdalho" - esse mesmo que tanto fere alguns dos meus amigos, que nele detectam, sei lá porquê, alguma vilania "(neo)liberal". Nada gostava ele desses "esquerdalhos", os dos "grupelhos", essa malta maoísta/polpotista, a infecunda tralha enverhoxista, nem mesmo dos suspeitosos mas cá escassos titistas, para além dos patuscos trotskistas (que só depois se vieram a transformar em fridakahlistas). Isto para nem falar dos abjectos baadermeinofistas, grapistas e etarras, brigadistas (esses tão avessos ao "compromisso histórico"). E mesmo aquela gente do IRA não lhe caía no regaço. E num dia adolescente estava eu veemente a contestar-lhe o seu arreigado sovietismo e disparei-lhe, impante, "se vivesses na URSS tinhas sido fuzilado" ao que ele ripostou, de imediato, "com toda a certeza!". Como é óbvio o Camarada Pimentel nunca teve conta de Facebook...

Entretanto - e porque estou em registo de crónica do quotidiano - este fim-de-semana acompanhei um querido amigo numa incursão a uma Bertand. Eu nunca entro em livrarias, pois tenho estantes demasiado carregadas e bolsa demasiado vazia. Mas o homem fartou-se de comprar livros e eu, para não parecer mal, qual "intellectualité oblige", escolhi um, este. No final, já na caixa, o tipo foi generoso e ofereceu-mo.

E depois fiquei a ler, tal e qual como se estivesse diante dos "O Escudo de Arverne", "O Combate dos Chefes", "La Zizanie", tantos outros, tão antes do 25 de Novembro ou de Abril, ou mesmo de saber ler. Pois que se lixe o cendrário, que não tenho pressa.

02
Out23

Dos blogs às redes sociais

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Por cá há vinte anos muitos da minha geração mergulharam no bloguismo, tanto que até se falou do meio ecológico "blogosfera". O primeiro blog de alguém conhecido terá sido o Ponto Media de António Granado. Mas o que disseminou a mania foi o impacto num pequeno meio urbano do Coluna Infame, de um trio de desconhecidos que se vieram a tornar reconhecíveis. Tudo muito alargado quando apareceram o Aviz e o Abrupto, como se o prestígio dos seus autores legitimasse a volúpia palradora que se gerou. Nada disso chocava - nem articulava, parece-me - com as redes sociais de então, o HI5, o Orkut, os grupos de "conversa" (chat), seriam espaços diferentes, gentes e objectivos diferentes.

Passados poucos anos apareceram as redes sociais ainda vigentes. E os bloguistas logo acorreram, nisso dissolvendo a tal "blogosfera". Muitos deles, os mais politizados, avançaram para o Twitter, impávidos diante da evidente contradição: E no frenesim do "microbloguismo político" incompreenderam a contradição - a política não se analisa com frases curtas, as impostas pelos apertados limites daquela rede. Alguns, talvez muitos, ainda por lá continuam, assim guturais clamando contra a... superficialidade dos políticos actuais e a análise política da imprensa.  Enfim, cada um como cada qual. Mas há alguns (e os tuiteristas com toda a certeza) que até metem dó.

Mas outras redes e modos se instituíram. Entre os da tal minha geração alguns, menos viraram-se para o Youtube, de início normalmente de modo mais passivo (mas benéfico) pois restrigindo-s a partilhar obras alheias  e - depois - atrevendo-se a assomarem, tal como alguns outros vieram a fazê-lo neste modo radiotelevisivo de agora, dito "podcast". Mas a maioria transitou primeiro para o albergue espanhol temático do Facebook e/ou, anos depois, para o Instagram, esta rede catapultada pelo miríade de Cristianos Ronaldos, Kardashians e demais "influenciadores" ali vigentes.

É nestas duas macro-redes - ainda que me pareça que o Facebook está em declínio, envelhecida e cansada a mole residente - que tenho conta. E anteontem notei bem a diferença mental que comanda os seus utilizadores, isso através de algo que me aconteceu. Em dia soalheiro, neste Verão insistente que persiste, cruzei o Tejo num até simbólico cacilheiro, algo que não fazia há pelo menos um ano. No cais esperei um pouco pela partida, e depois fui-me até à Margem Sul naquele até lânguido trote do cavalo-de-rio. Fi-lo de telefone na mão, blogando na plataforma do Facebook - que é mais manuseável em telefone do que a do blog -, naquela meia-hora escrevendo um postal. O qual encimei com um fotografia "picada" numa qualquer página digital. Nisso não olhei nem a montante nem a jusante. Publiquei o texto, aportei, e calcorreei o pequeno trajecto até a casa amiga para almoçar umas deliciosas favas com entrecosto.

É isso o comportamento típico do bloguista, encapuçado de facebookista. Pois fosse eu um instagramista militante ter-me-ia agarrado ao mesmo telefone, captando imagens a norte e sul, a oeste e leste, e até lhes chamaria "fotografias", por pobre de pindéricas que fossem... E publicá-las-ia na minha conta. Tal como fiz ao meu textito, por pindérico que seja.

São mesmo dois modos diferentes de estar. E neste Tejo com o Bugio lá ao fundo impõe-se-me a pergunta: são estes modos, o do garimpo das imagens ou o das palavras, o rumo do faroleiro, iluminador, no Bugio. Ou são apenas os modos da macacada, sita nas ilhas do bugio? Parece-me, e cada vez mais, que são estes últimos. Enfim, a ver se na próxima travessia me deixo a apanhar a brisa. E a ver a paisagem. Pois Lisboa, apesar dela-própria e algumas das suas gentes, é lindíssima.

 

09
Set23

O desvanecer do Facebook

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Pelo que me parece a frequência no FB vem decrescendo, e muito. É o destino das "redes sociais" - mostrou-o o historial do HI5, na qual nunca tive conta; e também, à sua maneira, o dissolver da rede bloguística.
 
Nem julgo que tal se deva ao apelo de outras redes (como a filial Instagram ou a juvenil Tiktok). Terá muito mais a ver com o envelhecimento da rede, após 15 anos há muito que o FB já não tem o viço da novidade, esse que o globalizou. E também o do seus utilizadores, que trará o desligar advindo da monotonia do que aqui cada um de nós vai partilhando do seu quotidiano - que reflexões, ideias ou "eventos" ainda teremos para informar outrem? Que interesses ainda vemos nos outros? Ainda para mais sendo o FB a "rede social" dos mais-velhos, que se vão amodorrando e também muito fenecendo - e sem querer ser mórbido é óbvio que o FB é já um enorme cemitério.
 
Para além disso há causas outras: a crescente profusão dos canais televisivos ou a divulgação pirata de quase toda a imprensa nacional e internacional, convocarão as atenções dos (ex)facebuquistas. E, claro, a sucursal Whatsapp, a facilitar as comunicações multimédia gratuitas.
 
Nada li sobre isto, assim não tenho dados estatísticos, apenas elaboro a partir da minha experiência. Cheguei a ter duas contas (a do "José" e a do "Zé"), para cruzar o limite dos 5000 "amigos", e nisso compondo cerca do dobro das ligações que hoje tenho - e decerto que tantas delas com contas agora (semi)abandonadas. E durante anos a fio era constante a chegada de pedidos de ligação, coisa hoje em dia raríssima.
 
Alguns dirão "ah, já não há paciência para este tipo, cada vez mais chato e desinteressante, e agora está à procura de causas externas para que não o aturem...". Também concordo. Apenas aduzo razões complementares para o decréscimo das minhas interacções, que independam da minha soturnidade.
 
E um dos meios para perceber a impaciência alheia para comigo é ver a reacção aos postais de blog que deixo na minha conta de Facebook. Mas isso também me serve para entender o que os utilizadores vão ainda aceitando. Pois se meto alguma coisa sobre "comes e bebes" ou outras actividades prazerosas ainda surge um até vasto ombrear simpático. Mas se venho com "actualidades", coisas da política - ou mesmo do malvado futebol - colho o "scroll down" alheio, algo bem diferente do que acontecia há uns anos. De facto, já não se vai para o FB para aturar politiquices...

09
Fev23

Cristina Ferreira e as redes sociais

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A popular apresentadora de televisão foi acolhida na Assembleia da República, na qual defendeu a regulação dos conteúdos das "redes sociais". Presumo que a verdadeira "namorada de Portugal" esteja ainda desiludida com a revogação dos preceitos mais "controleiros" da lei - dita "Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital" - que o (ex-)deputado socialista Magalhães havia tentado estipular - e que haviam desagradado aos malvados adoradores do Algoritmo, ao próprio Presidente da República, reconhecido instangrameiro, e, presumia-se, aos tuíteristas do Tribunal Constitucional. Ciosa defensora da pluralidade informativa e da ética republicana na comunicação social, Ferreira, ela própria com responsabilidades directivas televisivas, estará preocupada com os processos monopolistas decorrendo nesses meios, sempre em prol de uma efectiva liberdade de informação promovida por uma comunicação social livre de pressões políticas, ameaçada que tal liberdade está pelo verdadeiro vazio legislativo existente.

Entretanto, Ferreira, que em tempos idos deixara no ar a hipótese de se candidatar a Belém, vai já pavimentando esse caminho. Presumo que para esse desiderato contará com o apoio do ilustre Senador, antigo cabeça de lista nacional escolhido pelo então primeiro-ministro José Sócrates, cônjuge de membro dos governos por aquele capitaneados e actual colega europarlamentar de Silva Pereira - entre outros -, e que do alto da sua (senatorial) experiência política nos alerta para o processo em curso, que será alimentado pelas tais "redes sociais" e pela imprensa "monopolizada". Processo no qual "o Ministério Público, entretido que está na sua guerrilha diária contra o Governo e os políticos, por via do seu órgão oficioso, o Correio da Manhã," minam a democracia, tal como ela deve ser. Esperemos então pelo pacote legislativo que nos defenderá da perfídia ôntica da ralé das "redes" e dos ilegítimos anseios dos capitalistas da comunicação social.

(Postal para o Delito de Opinião)

04
Nov22

Viva o b-ok!

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O ataque em curso ao sítio b-ok e seus múltiplos locais é uma pérfida manobra do capital corporativo. O livre acesso impõe-se. E não me venham falar de direitos autorais... Cobrar dezenas de dólares pelo acesso a artigos científicos com décadas, por exemplo? Exigir filiações institucionais para aceder aos corpos bibliográficos? Explorar os financiamentos estatais às universidades? Inaceitável. 

Posto de outra forma: o b-ok é uma preciosa, inestimável, fonte da democratização do saber. Não é "pirata", é corsário!!!!

24
Out22

O Facebook

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Há um bom par de anos que chamei a este facebook a "likeland", a terra onde partilhamos aprazíveis "gostares", uma verdadeira "utopia" de bem-estar moral. Não é um defeito, é uma saudável panaceia que nos intervala os males do mundo. Cada vez isso mais me é visível, pelo menos no nicho das interacções que o algoritmo anima entre as minhas milhares de ligações - os "amigos-FB" com os quais interajo, neste "comércio" mais ou menos frequente de "sorrisos", "anuências" e "saudações", os "likes" (e "comentários"), que (n)os vão fazendo verdadeiros vizinhos, pois nomes que se me vão tornando conhecidos mesmo que nos desconheçamos na vida real, essa incómoda "real land", tópica.
 
Mais percebo isso pois as nossas características, as desta minha "comunidade" de entreajuda moral, a dos envolvidos neste nosso (quase)diário "estamos juntos", que se quer avessa à solidão - mesmo que enfrente apenas o "sozinhismo" -, implica que me acolhem com ruído prazeroso e solidário, e assim basto "gostável", as novas e notas da minha vida: uns dizeres sobre o meu Sporting, ecos de uma patuscada entre amigos reais, um resmungo com a minha ciática que afinal também é gota mas esta, afinal e vá lá, é apenas um entorse, ainda que bastante incomodativo, um sucesso da minha (magnífica) filha, um livrito para o qual me consegui concentrar, uma memória do "meu" Moçambique, uma nota sobre um bom filme visto na TV ou sobre uma tasca que descobri, uma piada menos brejeira que recebi no Whatsapp. E algum, escasso, etc.
 
Já algo oposta é a reacção se me ponho a opinar, ou a ecoar opiniões alheias, sobre os "males do mundo", os da tal "real land". As quais vou percebendo como uma violação do protocolo que nos une aqui, neste espaço de suspensão das preocupações e querelas, essas que preenchem a vida e, também, os dizeres nas "rádio, tv, disco e cassete pirata" que nos inundam o quotidiano. Que colhem um silêncio que não será exactamente uma discordância comigo ou com a minha forma - pois para isso há o "desamigar", o neologismo daqui - mas muito mais um até mudo "ó amigo/vizinho Teixeira, deixe-se disso, quer falar de coisas sérias, incómodas? Guarde isso para os blogs, homem...". Ou, até, "para si...", num "já viu como está a sua vida? Estivesse estado você calado...!", que é coisa que não é raro dizerem-me os da "vida real".
 
Enfim, resta-me anuir a este nosso protocolo (numa concordância ao velho mandamento "se está mal mude-se"). Aceitar esta nossa prazerosa "likeland" tal qual ela é - ainda que consciente e convicto de que esta terra não é a Cocanha.
 
Mas ainda assim deixo, pois renitente, uma citação que Paulo Sousa colocou agora no Delito De Opinião, sobre esta nossa terra Portugal. Um excerto de um texto que não é de um furioso esquerdista nem de um paladino do professor Ventura, nem de um publicista da sempre pérfida "oposição". É de Ricardo Costa, director do tão institucional de alinhado "Expresso" e também irmão do nosso primeiro-ministro desde 2015. Deixo-a aqui, à transcrição, sabendo que poucos "gostarão" dela. E que, pior ainda, poucos nela atentarão. Pois afronta o sossego identitário de tantos dos "vizinhos":
 

Bloguista

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