Integral de Iznogoud
O primeiro volume da colecção integral das aventuras do ignóbil grão-vizir Iznogoud, celebrizado pela sua monomania, essa tão deliciosamente narrada que ficou como sua marca-d'água - mas a qual não será seu monopólio, se se olhar para a política, a histórica e a actual.
O infame grão-vizir Iznogoud nasceu em 1962, filho do mag(n)o Goscinny e de Jean Tabary, tendo o seu parto decorrido no primeiro número da revista Record, numa era de imensas revistas periódicas de banda desenhada (Tintin, Pilote, Spirou, etc.) - destinadas (pensadas) para um público infanto-juvenil, predominantemente masculino. Goscinny desdobrava-se em argumentos para as aventuras de várias personagens por ele criadas, publicadas num alargado naipe de revistas - uma "integral" de Goscinny seria uma colecção gigantesca. Iznogoud, como tantas das personagens de banda desenhada que se tornaram "reais", sobreviveu ao seu pai.
Como tal esta colecção "integral" consiste em 30 volumes, contendo não só as aventuras como os célebres "regressos" do malvado grão-vizir - as (por vezes muito) posteriores explicações de como se safara o horrendo grão-vizir das alhadas em que incessantemente caía, dado o insucesso dos seus malévolos planos. E ainda outros materiais mais avulsos, bónus, capas de revistas, ilustrações, jogos, etc. Este primeiro volume (meros 2 euros, preço de lançamento da enorme colecção) tem três histórias: "La Chasse au Tigre", "L'Invisible Menace", "Un Sosie", "La Flûte à Toutous", um regresso (uma solução) da "Invisible..." e três da "La Flûte...". E dois artigos sobre a história desta série
Iznogoud (delicioso jogo fonético) é assim uma bela paródia mas também maravilhosa catarse, menos caricatural do que poderá parecer, da vida política. O demoníaco grão-vizir "nãoébom", está escravizado pela sua obsessiva vertigem de poder, que a tudo se sobrepõe, por ela tropeça numa incessante sequência de incompetentes planos e acções. E sempre resiste, sempre regressa. A personagem, na sua fealdade, avareza, pequeneza, impôs-se - tanto que a série começou por ser "As Aventuras do Califa Haroun El Poussah", o bondoso, plácido, e basto aéreo, obstáculo à perfídia do interesseiro grão-vizir. Mas logo se tornou óbvio aos autores, e a Goscinny em especial, que era Iznogoud o coração. Pois era a infâmia de quem queríamos rir, simpatizando.