Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nenhures

Nenhures

26
Fev25

Um egolátrico nos Correios

jpt

CTTUEM.jpeg

Sempre gostei dos "Correios" - talvez efeitos de uma infância feliz, muito composta pelas estadas em São Martinho do Porto, onde tínhamos casa, junto ao mercado, já no início da subida para o Facho. Durante as quais ia eu, petiz ufano, a acompanhar os meus pais nas habituais, obrigatórias mesmo, idas aos "Correios" - sitos junto à baía, após a célebre "Rua dos Cafés" (de facto Vasco da Gama). Iam eles lá para... telefonar aos meus avós, todos já septuagenários! Tão diferentes eram esses tempos. Depois era obrigatório sentarmo-nos no café (o do "Careca", opção de classe do meu pai...). Onde eu tinha direito, desde a mais tenra idade, a um "garoto" (como se chamava então ao actual café pingado). Bebida que me fazia sentir imensamente "crescido".
 
Terá sido o recordar de todo esse mimo que me levou a tanto apreciar este velho - e então já algo anacrónico, mas resistente (na época, ainda que já em XXI, ainda não se dizia "resiliente") - marco dos CTT, colocado no campus da Universidade Eduardo Mondlane, ali diante do edifício onde reside o Departamento de Arqueologia e Antropologia, no qual leccionei durante 15 anos. Tanto dele gostava que lhe dediquei um postal de blog há já... 19 anos! Caramba!
 
Enfim, estas memórias "postais" vêm a este propósito: como aqui bastante tenho referido, há meses que autopubliquei um livro sobre as minhas andanças. Vale o que vale, mas diverti-me a escrevê-lo. O qual se vende através do sistema de "impressão por encomenda" por... via postal. E nisso colheu muitos mais leitores do que esperava eu.
 
Há dias - e tanto para deixar de incomodar os interlocutores com o assunto como para aproveitar uma (pequena) promoção da plataforma editorial - perguntei "nas redes" se haveria ainda algum interessado, mais renitente a estes passos de aquisição via internet. Pois se houvesse uma dezena trataria eu da encomenda e sua distribuição... postal. Pagam-me, dão-me a respectiva morada, eu trato do resto.
 
E até ontem surgiram 48 interessados no meu "Torna-Viagem". 48!, fiquei estupefacto.
 
Ontem mesmo telefonei a um velho amigo, a indagar se quereria ele acompanhar-me ao lançamento do novo livro de um outro olivalense. Perguntou-me ele como ia isto do "Torna-Viagem", contei-lhe. Ripostou "estás a ver, ainda bem que alguém te convenceu a publicá-lo assim!" (fora ele, claro), um "assim" de autoedição por encomenda, sem editora, algo sempre socialmente desvalorizado. Rimo-nos. E avançou "ganhas algum taco com isto?", ao que respondi "Nada!" (tradução aproximada do inglês "Peanuts"). "És pago em ego", concluiu, sagaz. "Sim", gargalhei, sigo egolátrico, nisso por ora abonado. Para variar!
 
E, em assim sendo, para o final da próxima semana, exemplares impressos e recebidos, lá andarei eu em busca de marcos dos "Correios" a enviar livros. (E se calhar a perguntar aqui se haverá alguma boa alma, disponível para ser portador de alguns para Maputo, onde há amigos a "mandarem ir").
 
(O "Torna-Viagem" pode ser encomendado através desta ligação)
 
[Adenda: e não é que quinze minutos depois do postal já arranjei portador para Maputo?!]

21
Fev25

A propósito de um livro

jpt

tornaviagem.jpeg

Vi ontem que a plataforma editorial Bookmundo - na qual alojei o meu livro "Torna-Viagem" (esse que só se compra através de impressão por encomenda nesta ligação) e o qual tenho aqui divulgadoestá a fazer uma promoção até meados de Março. Na qual não cobra os custos do envio postal de encomendas de 10 ou mais livros.
 
Por isso ocorreu-me perguntar nas minhas contas nas redes sociais (Facebook, Instagram e a telefónica Whatsapp) se ainda haveria interessados em comprar o livro. Interessados mas renitentes (ou desajeitados) em "comprar na internet"... E se entre eles se juntaria a tal dezena de exemplares. E - afinal! - ainda os encontrei, aos interessados, até agora já 40. Assim farei uma encomenda dessas dezenas de exemplares e depois reenviá-los-ei. 
 
E se algum visitante deste Nenhures tiver interesse no livro poderá associar-se a esta encomenda conjunta, contactando-me por mensagem (nos comentários ou no email maschamba@gmail.com), dizendo-me a morada respectiva e combinando o pagamento da encomenda. 
 
 
 

02
Fev25

De Setúbal à Graça

jpt

rest.jpg

Foi um sábado cheio. Dado o gentil convite que a Lígia Águas me fizera fui à biblioteca municipal de Setúbal "apresentar" o meu "Torna-Viagem". Para isso fui acompanhado por umas dúzias de amigos, os quais destemidamente cruzaram o Tejo. Começámos por visitar a bela exposição do Miguel Navas na Casa de Cultura. Depois enchemos uma ala no Adega do Zé, para um cultural almoço.
 

pz.jpg

Saciados os convivas avançou-se até à sessão - enchendo a sala, e nessa reencontrando amigas que não via há trinta anos, assim emocionando-me -, na qual a Patricia Portela fez o favor de me louvar e algo provocar. Eu defendi-me como pude, tentando em atrapalhada verve reclamar o que Nerval um dia disse (ainda que depois tenha escrito coisas bem diferentes): "Como são felizes, os ingleses, por poderem escrever e ler capítulos de observação desprovidos de qualquer mistura da invenção romanesca!".
 
Depois seguiu-se uma inusitada venda de livros, um verdadeiro frenesim comercial. Pois alguns amigos haviam-me ordenado "se vais apresentar o livro tens de levar exemplares...". Assim fiz, encomendando alguns e transportando-os para o efeito. Após isso houve fragmentação da mole, alguns avançaram aos seus destinos, outros derivaram para jantarada na capital do choco. Eu e alguns outros refugiámo-nos num simpático pequeno largo entre a Luísa Todi e a Bocage, bebeu-se algo acompanhado de tremoços. Nesse entretanto um dos convivas, sorridente, disse-me "fizeste bem em pontapear a exposição sobre o colonialismo, estão a remendar aquilo" (irados resmungos que eu fiz há alguns meses) - decerto que os erros factuais, que da anacrónica sanha nunca se expurgarão. Ri-me com isso...
 
Regressei à capital, indo a jantar de sexagésimo aniversário de amiga, ocorrido no para mim desconhecido "A'Paranza", aos Anjos, um simpático restaurante mas... italiano. Era um universo mais "académico", face ao qual me recolhi, restringindo-me a fugaz investida contra a referida "anacrónica sanha decolonial", tendo obtido a rendição total sobre o assunto. Em dia festivo para mim (e não só) logo abdiquei do "sem quartel" oratório, sempre exigível nessa matéria, e retirei-me junto ao pequeno bar onde me dediquei a ensinar aos - simpaticíssimos - italianos da casa os diferentes conteúdos semânticos dos termos "saideira" e "abaladiça". Mais tarde fui recompensado com grapa(s)... Quando os comensais terminaram o longo repasto (vi passar inúmeras iguarias ... italianas) acompanhei uma amiga - que já vinha da passeata sadina - até sua casa, à Graça (um cavalheiro nunca deixa uma senhora sozinha calcorreando as noites dos bairros populares).
  
Cumprida a nobre função, ajoujado pela mochila com os remanescentes exemplares do "Torna-Viagem", esses que não havia conseguido impingir, lá pelas 2 da manhã, constatei que não tomara o pequeno-almoço e que talvez fosse conveniente acomodar-me antes de dormir. Entrei numa tasca nos baixios daquele bairro. Comi uma "sande" de presunto (apesar da tensão alta que me importuna o destino), bebericando uma imperial e olhando o grupo de felizes universitários que ali se divertiam com placidez (e com um punhado de amigas lindíssimas, não apenas jovens), nisso despertando-se-me a nostalgia, pois mesa tão similar a tantas que vivi há décadas.
 

ZM.jpg

De súbito apareceu o Zé Maria, amigo moçambicano agora músico residente no Secret Garden LX, não poderia haver melhor conclusão para um dia de "Torna-Viagem"... Aliás, poderia, bastaria para tal que não estivessem ele e seus amigos, bem chateados - pois a eles recusava o velhote tasqueiro servir as apetitosas sandes de presunto, as quais entretanto aviava aos meus patrícios... Pois é, é que "ele" há destas coisas, a gente-nós, "brrrancos", é que nem notamos.
 
Enfim, em suma, hoje acordado fiquei a olhar para o punhado de livros que me sobraram, "raisparta, que vou fazer disto?"... Mas não seja por isso, foi mesmo um belo sábado. Obrigado aos amigos excursionistas...
 
(Para quem se possa interessar: o meu "Torna-Viagem" só se encontra no portal da plataforma editorial Bookmundo, através desta ligação: https://publishpt.bookmundo.com/books/366121 )

31
Jan25

"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..."

jpt

tete.jpg

(Venâncio Mondlane em Tete, julgo que anteontem)

"Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. Substituídas por questões prementes, como a do deputado ladrão de malas - repararam como o Ventura, após o seu estupor inicial, agora aparece a reclamar-se "primeiro denunciante"?; as inanerráveis malfeitorias laborais dos bloquistas - face às quais o prévio vereador Robles surge como um simpático agente prenhe de empreendedorismo; a relativa inflexão de PNS sobre imigrantes - que põe os seus camaradas a clamar contra qualquer esforço alheio de adaptação às mundividências nacionais (a "cultura portuguesa", para se falar de modo simples) e o colunista-Expresso Raposo dispara(ta)ndo um lusotropicalismo actualizado: "para semos um V Império, que é um império-cais, onde o mundo pode atracar...", sim o homem escreveu isto; mais as demissões no núcleo governamental devido a trapalhadas privadas, recentes e actuais - mas quem escolhe estes tipos?; e, acima de tudo, o drama da "linguagem de rua" do treinador Lage. Já para não falar das minudências que ocupam os espaços mortos dos telejornais e comentários, o frenesim trumpiano, aquela maçada de Gaza, e a cansativa exigência de Putin em defender o "espaço vital" da sua Mãe Rússia, para se falar como a intelectual Mortágua...

Enfim, com tudo isto a gente distraiu-se de Moçambique. Eles também já estavam a abusar da nossa paciência, é certo... Por isso as perguntas dos meus amigos, essa repetida "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", até porque interrompi a saraivada de postais sobre o assunto (os quais sublinho pela sua divulgação telefónica, para aborrecimento de alguns deles, presumo). Costumo responder que talvez seja melhor ouvirem o que dizem sobre o assunto os nossos antigos ministros, reciclados em facilitadores de negócios e até administradores das grandes empresas - "não lhes escrevas os nomes", "não te metas com esses gajos", "não ganhas nada com isso", avisam-me amigos, não tão juniores assim...

Então, e para responder a esses amigos que se foram interessando pelos destinos daquela minha Não-Pátria, resumo o que sei: o candidato Venâncio Mondlane regressou ao país e anunciou três meses sem manifestações  (deu os consuetudinários "100 dias de estado de graça" ao novo governo). O partido Frelimo nomeou um novo executivo, com tantos membros oriundos do anterior poder que aparenta ser de continuidade ("uma evolução na continuidade", como diria Marcello, o original). A mortandade entre os militantes oposicionistas nas localidades - incluindo jornalistas - terá amansado, mas não abundam as investigações sobre a responsabilidade dos desmandos sanguinários dos últimos meses. Ainda assim, de quando em vez a polícia usa de violência seguindo-se represálias populares, algo significativo em especial aquando no Sul de país, antiga zona monopólio de implantação frelimista.

Entretanto, a predisposição para entabular conversações com o oposicionista Mondlane, que fora enunciada pelo novo presidente, ainda não se concretizou, e segue o poder Frelimo na sua muito habitual postura esfíngica - "índica", como muitos referem, em particular os dirigentes socialistas portugueses quando em "visitas de Estado" e que agora se arrepiam ao ouvir falar de algumas características comuns às mundividências e práticas portuguesas (mais depressa se apanha um mariola do que um paraplégico, como é consabido...). Os velhos partidos oposicionistas, Renamo e MDM, que se haviam recusado a integrar o novo parlamento estão já a arranjar as micas, dossiers e as pastas de executivo para assumirem lugares.

Nisto Venâncio Mondlane, que se autoproclamara "presidente do povo", encetou uma digressão, uma ronda de "presidências abertas", por assim dizer... Recebo imagens de uma curta visita ao Hospital Central de Maputo, causando um enorme júbilo entre os ali situados. E de gigantescos banhos de multidão em Bobole - perto de Maputo - e em Tete, a Norte. Situações que muito denotam com quem está o povo, a quem o povo apoia. Por mais que custe aos "empreendedores" lusos. E a alguns outros.

Adenda: no sábado (dia 1 de Fevereiro, às 16 horas) estarei na biblioteca municipal de Setúbal, instituição que teve a gentileza de me convidar para falar sobre o meu livro "Torna-Viagem". E, quem sabe, pois dependendo do interesse dos que comparecerem, depois de tentar impingir a colecção de crónicas (2/3 das quais decorrem naquele país) poder-se-á falar um pouco sobre "como está aquilo em Moçambique". Se algum dos leitores do Delito de Opinião estiver nas cercanias será um prazer vê-lo por lá.

30
Jan25

Em Setúbal

jpt

Cartaz Setubal.JPG

Depois de amanhã, sábado dia 1 de Fevereiro, irei a Setúbal. De manhã, ao meio-dia, junto a alguns amigos visitarei a exposição do Miguel Navas, na Casa de Cultura da cidade. Depois petiscarei, frugalmente, num qualquer sítio da simpática Luísa Todi, ou nas suas redondezas. E às 16 horas lá irei à biblioteca conversar sobre o meu livro "Torna-Viagem" (o tal que só se compra por encomenda aqui). Para me amparar nisso irá a Patrícia Portela, escritora mesmo, que me fará (espero) alguns elogios pejados de sarcasmo. E, finalmente, se houver tempo e energia, ali nas nas cercanias beber-se-á um chá (o "das cinco", mais ou menos), e falar-se-á do que ocorrer... Se alguém tiver paciente disponibilidade para se associar será muito bem-vindo.
 
E cumpre-me agradecer a gentil divulgação que o Xetúbalblog fez da sessão.

16
Jan25

No "Convidado Extra"

jpt

OBservador2.jpg

Como avisara fui ontem à Rádio Observador, onde tive uma muito simpática conversa com o João Paulo Sacadura no seu programa "Convidado Extra", 3/4 de hora subordinados ao tema "o que é que andas(te) a fazer na vida?", e isto desde a mais tenra ... puberdade, que o homem me vasculhara. Ficou disponível aqui: https://observador.pt/programas/convidado-extra/como-explicar-a-frelimo-que-o-seu-tempo-acabou/
 
Logo que terminou a emissão recebi duas mensagens: uma queridíssima amiga, originária do Atlântico austral, louvando a conversa mas criticando "o sotaque lisboeta, a comer algumas palavras tornando-as imperceptíveis!", e eu a ficar-me atrapalhado, até rubro mesmo que sozinho... E logo a seguir um velho amigo (nunca me esqueço que me esmurrou no dia da festa dos meus ... 10 anos) a invectivar-me "quase não falaste do teu Torna-Viagem!!! assim não consegues vender, tens de aprender a falar...!". Pois, não tenho jeito, mesmo.
 
Mas, insisto, a conversa foi-me muito simpática. Quem tiver paciência bastará clicar.

15
Jan25

Na Tomada de Posse de Chapo

jpt

posse.jpg

1. Quando vivia em Moçambique escrevia no blog ma-schamba. Ali não falávamos de política nacional - era um colectivo de estrangeiros. Mas às vezes resmungava com os dislates da imprensa portuguesa sobre o país. Voltando a Portugal, de vez em quando vou escrevendo sobre o país e seus rumos - principalmente no mais lido Delito De Opinião. Porque gosto de Moçambique; porque julgo que pouco dele se fala na imprensa (e na academia); porque muito me irritam alguns disparates que, ainda assim, vão saindo sobre o passado e o presente (sim, estou a pensar no "Público" mas não só. Por exemplo, agora será um "caso de estudo" o que se passa - e porquê - na SIC Notícias). Decerto que por isso neste - tardio - acordar da imprensa sobre a situação (estrutural) de Moçambique, dois ou três jornalistas amigos "sopraram" o meu nome às redacções para que apareça eu a "comentar". E lá fui eu, algumas vezes. Ora se o escrever me é normal, já o "aparecer" é coisa excêntrica. Face a isto os amigos próximos riem-se, com algum piedoso carinho: pois me sabem mais dado ao culto da rusticidade, e este meu rumo de mimalho narcísico desilude-os um pouco. Por isso sinto necessidade de me justificar diante deles, lembrando-lhes a minha condição de já sexagenário. Assim alquebrado.
 
2. Nesse rumo fui gentilmente convidado para hoje comentar na RTP3 o discurso de empossamento de Daniel Chapo. Logo após recebi uma simpática mensagem de uma amiga distante de Maputo - a qual, pelo que dela conheço, presumo não seja uma venancista. Enviou-me a foto com uma legenda, a qual sumarizo nos meus mais deselegantes termos por um "não borregaste". O que me alivia pois não quero ali tomar "partidos" - mas sim partido, por um melhor país!
 
O que disse é simples de resumir: há hipóteses de diálogo, e Chapo vem dando indícios de ter essa capaz disponibilidade. E que o discurso foi bom, apaziguador, e apresentando um ror de intuitos desenvolvimentistas (ainda que nós saibamos que "de boas intenções estão os Panteões Nacionais cheios").
 
Logo vários amigos me "mensajaram" a sua descrença na hipótese de diálogo Chapo/Frelimo-Mondlane. Então explico-me: para além da obrigatoriedade pragmática desse apaziguamento dialogante há outros dois factores. Por um lado, o discurso de Chapo (que ainda não li apesar de o ter recebido no momento exacto do seu término) tem grande similitude com o programa de Mondlane. Ou seja, coincidem no diagnóstico da situação do país ("dialogam" sobre isso, se assim se quiser). Poderão discordar das formas executivas tendentes às reformas, mas isso é a jusante.
 
Por outro lado, há algo que só depois vi. Quando Mondlane se rebelou contra (mais) esta fraude eleitoral, vários intelectuais alcochoados com a cleptocracia vigente se insurgiram contra o evangelismo público (e propagandeado) do candidato. Ora acabo de ver um filme oficial da candidatura de Chapo, no qual surge ele imediatamente antes do empossamento, ajoelhado em profunda oração, acompanhado da sua mulher, e invocando a iluminação divina para os seus actos. Ou seja, os dois políticos partilham este cristianismo político, um liame dialogante com toda a certeza, mesmo que pertençam a congregações evangélicas diferentes.
 
E isto, a ascensão de um presidente do Frelimo que explicita a sua devoção pela iluminação do deus cristão, significará algo muito relevante. A velha Frelimo, o partido vanguarda Frelimo, de inspiração m-l e com laivos maoístas - que ainda habita nas saudosas memórias da "velha guarda" marxista e de alguns desses intelectuais - já desapareceu há muito, é consabido. E talvez surja agora como uma "democracia-cristã", ecuménica no seu trans-catolicismo e abertura coabitante ao islamismo. Acompanhando dinâmicas no continente. E por mais que isso me seja distante, ateu e adepto da laicidade (algo que muito ultrapassa a mera religião), também o prefiro aos guevarismos folclóricos e aos tétricos brejnevismos.
 
3. A população, em particular a apoiante de Mondlane, exige melhores condições de vida, menos corrupção, mais desenvolvimento e maior democratização. Esta última implica que os políticos - os que estão no poder e os que a isso aspiram - são não só criticáveis como são (devem ser) criticados. Mondlane ontem atacou o MNE português de forma desabrida. Causou a Rangel um enorme rombo no seu capital político pessoal - ele terá de deitar borda fora todo o seu lastro para se manter à tona de água. Pois deixou que a relação com um importante interveniente de um aliado fundamental chegasse a um ponto destes, descurou-se.
 
Mas Mondlane esteve péssimo. Rangel não fez campanha em Moçambique, não urdia conspirações contra a oposição, não financiou o partido oponente, não fez qualquer ingerência. Terá tido ritmos e tons menos felizes sobre a situação moçambicana. Mas se Mondlane disso discorda então contesta o governo português, critica-o, em público se considerar necessário. Mas se tem apenas problemas com o nosso ministro, fala com o nosso embaixador, pede para que ele transmita o seu desconforto, desagrado, ao ministro em causa, ao seu PM, até mesmo ao PR. Agora um ataque pessoal, uma critica ao seu desempenho político, em tom desabrido, em público? Foi completamente descalibrado. Foi uma agressão ao governo português, até mesmo a este Estado aliado. Mondlane quer ser estadista? Seja-o, já. E nunca assim.
 
Muitos não concordarão comigo. Considerando "Venâncio" intocável. Apodando-me de "xicolono". Mas é mesmo isto o que eu penso: Rangel esteve muito mal neste processo, o seu SENEC é inexistente, o que é péssimo. Mas isso são problemas nossos, portugueses. E Mondlane esteve muito pior. Mas isso é um problema deles, moçambicanos.
 
4. Enfim, presumo que terminada a minha tournée televisiva pois quero crer / desejo que amainada esteja a situação moçambicana, lembro os amigos que hoje irei - já não em registo narcísico mas apenas conversacional - à Radio Observador, ao programa Convidado Extra. Irei falar do meu livro "Torna-Viagem", e andanças concomitantes. Com o explícito objectivo de seduzir algum(ns) hipotético(s) leitor(es). Aduzo que amigos (e não só) compraram o livro, alguns até o leram. E entre estes houve quem tivesse gostado...
 
A entrevista radiofónica é transmitida às 20 horas mas ficará aqui disponível na página do programa . E o livro "Torna-Viagem" - o tal carregado de crónicas em Moçambique - só se compra encomendando-o na página da plataforma digital: https://publishpt.bookmundo.com/books/366121

30
Dez24

Rescaldo do 2024

jpt
 
 
 
 
 
Ver esta publicação no Instagram
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação partilhada por Roda viva Sabores & Saberes (@rodavivarestaurante)

 

 
Acaba o 24, o ano em que eu e parte substancial da minha "velha guarda" ficámos sexagenários. 23 não me fora mal , uma espécie de inflexão ao último (largo) quinquénio, até a augurar bons novos tempos... "Falsas ilusões", pois afinal o 24 foi-me um espalhanço, pessoal, laboral. A anunciar o abissal?...
 
Melhor momento, como se primaveril, neste Abril passado, (auto)publiquei o meu "Torna-Viagem" (o tal que só se compra através desta ligação), algo que era para ter feito há algum tempo. O livro teve alguns leitores, simpáticos. Apresentei-o no que esperei ser uma bela festa no Roda Viva, reconfortante, congregando amigos de vários núcleos da vida. Foi-o, estou-lhes grato.
 
Mas foi-me também dia exemplar da vida. Na véspera soubera que amiga mais que queridíssima estava a morrer, "anda cá despedir-te" avisaram-me!... E eu nem sequer sabia da doença, mostrando-me o quão ensimesmado arredio ando. Algo a esmorecer qualquer felicidade que de tudo aquilo, mero livreco, pudesse advir. Tal como desvaneceu a importância da birra familiar que me era então dedicada. Bem como a dos arrufos femininos pré e pós acontecimento, que me rodeavam. A tornar ainda mais viçosa a carapaça da tristeza, por vezes disfarçada de frenesim festivo. Rumo típico das gentes da minha minoria étnica, os acédios...
 
O resto do ano foi isso. Com inéditas zangas para comigo - será que envelhecem os circundantes e não eu, que sigo lindo, jovial e aprazível? À hora do rescaldo cíclico, ritual, não o posso crer. Pois um tipo pode assomar-se e clamar para sim mesmo que a única perda relevante é a da placenta. Mas não é a verdade. Todo este resto, a minha gente e o nosso tempo são o ouro que resta.
 
Desejos para 25? Alguma energia para esse garimpo, se possível. E que não nasçam tumores. Ela que venha cardíaca...
 
("Demasiado intimista, Zezé!", dirão os da velha guarda. "Sim, e depois?...").

19
Dez24

Canto dos Torna-Viagem

jpt

(José Mário Branco, Canto dos Torna-Viagem)

 "Então é Natal e estás a publicitar os livros dos outros? E o teu", Zé?, amigo alveja-me no Whatsapp, a propósito de eu (merecidamente) louvar/recordar o "Sair da Estrada" do Dentinho...

Ok, tem razão esse meu amigo. Assim aqui fica esta magnífica "Canto dos Torna-Viagem" do José Mário Branco, na qual ele - entre outras luzes - acendeu a "Cândida ignorância / Grande desimportância / Os frutos da errância / Já lá vão...". Que é também a minha.
 
E a qual procurei deixar no meu "Torna-Viagem". Livro que já aqui impingi várias vezes. Fica a insistência, para quem (ainda) se possa interessar durante esta quadra consumista.

08
Nov24

Narcisista

jpt

outtv.jpg

No fim do almoço uma querida amiga oferece o meu "Torna-Viagem" à sua convidada, para tal o havia encomendado. Eu fico agradado, lá coloco o gatafunho, em formato muito encomiástico da ofertada, a qual bem merece os elogios. A minha amiga fora uma das pessoas que há anos cirandara, meu rascunho na mão, sob motu proprio, em busca de uma editora para o proto-mono, sem nunca encontrar resposta... E ali, agora, mostra que continua a empurrar(-me).
 
Horas depois, já só nós, eu de micro-cálice de CRF Reserva na mão, dispara-me ela, afinal, que estou "narcisista". "Porquê?", surpreendeu-se este autofágico. "Então!, divulgas o teu livro!!!... dizes quantos vendeste!!", atira-me. E nisso temo-lhe até, talvez minha imaginação, algum azedume para comigo - e tanto isso me supreende, estupefacto fico quando os outros não me adoram, tão encantador sigo. "Narcisista, eu?", resmungo repetindo-me, sustendo (ela é uma senhora) o palavrão. "Então, se não for eu a divulgar o livro quem o fará?", defendo-me, já entre a espada (aguçada) e... o abismo.
 
Regresso a Lisboa. Telefona-me um amigo, dos da "velha guarda", a saber do meu desarrumo. E nisso pergunta-me "então e o teu livro, como está?". "Isso já acabou, já não vende..." (vendeu 210 exemplares adianto, como se isso seja estrado para o púlpito narcísico...!!!). Ele convoca-me, "tens de insistir, vem aí o Natal, pode ser que alguns o encomendem para essa altura". Rio-me com o marketismo dele... "Devo impingi-lo para a santa quadra? É um verdadeiro paganismo...". Rimos e seguimos na conversa, também ela desarrumada.
 
Depois noto que desde há já dois meses que não impinjo o meu "Torna-Viagem" - a tal centena de crónicas, dois terços sobre Moçambique, o resto sobre alhures. Assim como se tendo eu próprio esquecido o livro.
 
E por isso - "narcisista" dizem-me, e esforço-me por o confirmar - aqui o torno a impingir. Encomenda-se através desta ligação (basta "clicar").
 
E depois, entre 3 a 5 dias úteis, o(s) exemplar(es) encomendado(s) chega(m) ao destinatário numa caixa destas.

Bloguista

Livro Torna-Viagem

O meu livro Torna-Viagem - uma colecção de uma centena de crónicas escritas nas últimas duas décadas - é uma publicação na plataforma editorial bookmundo, sendo vendido por encomenda. Para o comprar basta aceder por via desta ligação: Torna-viagem

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contador

Em destaque no SAPO Blogs
pub