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Nenhures

Nenhures

22
Mar25

A "linguagem de rua" no blog

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(Postal para o Delito de Opinião)

Há uns dias o Pedro Correia deixou aqui um postal referindo que uma simpática leitora do DO lhe confidenciara o seu desagrado pela utilização de palavrões neste blog. Acontece que por vezes eu me liberto da tenaz que a minha irmã e a minha filha constituem e deixo correr a "linguagem de rua" - serei o único a pecar entre os prezados (e educadíssimos) co-bloguistas, talvez haja algum comentador (mais ou menos anónimo) que me acompanhe nesse rumo de franqueza popular, assim também maculando o belo blog.

Ainda que ateu, penitencio-me por esses erros, advindos de graves falhas de personalidade. Pois quando vejo coisas como estas, isto dos deputados do PCP António Filipe, Paula Santos e Alfredo Maia (este último um tipo que foi durante uma década presidente do Sindicato de Jornalistas, o que imenso diz da "classe") não só recusando acolher com aplausos os visitantes parlamentares ucranianos mas, mais do que isso, dando-lhes as costas - não se trata apenas de uma recusa simbólica de aplauso, uma posição política, é mais do que isso - ocorrem-me alguns termos desagradáveis às simpáticas leitoras do DO.

E ocorrem-me outras coisas, neste perigoso registo de associação de ideias: um presidente da república estrangeiro, o ucraniano, é convidado a discursar na Assembleia da República. E um funcionário parlamentar deixa-se em dislates públicos apoucando o convidado e a situação. E nisso afrontando o órgão de soberania no qual trabalha. "O que é isto, então agora o pessoal menor tem estas atitudes?" dirá, curialmente, qualquer simpática leitora do DO. Eu, desse António Filipe, disse e digo outras coisas... E lembro-me do escritor comunista Mário Carvalho ("ai que belo escritor", dirão logo as educadas leitoras do DO) a clamar que os tipos das redes sociais (eu e outros) que associavam o PCP a posições pró-russas eram pagos para isso. E a filha dele, também escritora, choramingando junto ao Boaventura, ao Soromenho Marques e outros que tais, que eram "perseguidos", "censurados" e até "criminalizados" por serem inteligentes, iluminados e, nisso, ditos algo russófilos.  Ou seja, o Mário Carvalho pode dizer que eu sou uma puta, perdão, prostituta, e alguns outros também. Mas é a linguagem de rua que ofende, não o putinismo abjecto desta gente. E portanto eu não direi palavrões, não digo o que penso desse António Filipe, dessa Paula Santos, mais desse outro qualquer. E do Mário Carvalho e da sua velha pirralha. Para não ofender as senhoras...

Como também não digo o que penso dos democratas-cristãos, esses do zombie CDS, que muito apreciam Putin porque sabe distinguir homens de mulheres. Porque, como se sabe, os gajos do CDS são muito avessos a essas coisas da homossexualidade. Estes "gajos" (enfim, autocensuro-me assim...) não têm vergonha na cara.

Pois o problema, real, é o da "linguagem de rua". Não este lixo humano.

12
Mar25

"É para um amigo..."

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Como preâmbulo: no "Observador" Paulo Dentinho deixou um bom artigo, "O tempo dos autocratas", breve resenha do que se passa. Deixo excertos: "Aos poucos, estamos a assistir à ascensão de regimes iliberais, onde a fachada democrática se mantém, mas esvaziada dos seus princípios essenciais. (...) Orbán reivindica Budapeste como a capital do iliberalismo e a sua “democracia iliberal” é hoje um modelo exportável. Tem seguidores em vários outros países europeus. Mas não só.

Com o seu modelo, o Estado e as suas instituições são capturados a pouco a pouco. A separação de poderes desvanece-se, torna-se aceitável: o parlamento é quase irrelevante, a justiça dobra-se. A imprensa é vilipendiada até só sobrarem os jornalistas amestrados. (...)

Os imigrantes são, normalmente, bodes expiatórios, as organizações internacionais e o sistema global de alianças é desprezado. As elites empresariais alinham-se. E no centro de tudo, o culto do líder.

Com maior ou menor dose, Modi e Erdogan fazem também parte da lista. Já em Moscovo, Vladimir Putin tem um sistema ainda mais aperfeiçoado.

Na Rússia há eleições, mas só para validar resultados já decididos. Putin não governa, domina o exército, a justiça, os oligarcas, os serviços secretos, a imprensa, a justiça. Tudo. O modelo é claro: não se cala a oposição, alguma é mesmo tolerada por ser cúmplice. Mas eliminam-se os opositores não desejados. Simples.

E agora, os Estados Unidos. Nesta segunda presidência de Donald Trump há já alguns sinais reveladores. Internos e externos. Ambos exercidos com dose significativa de brutalidade.

Internamente, há uma obsessão em controlar a justiça e a comunicação social. Externamente, o alinhamento com Vladimir Putin é uma simples constatação. O presidente americano já não fala da Rússia como uma ameaça, mas como um parceiro. Desfez as alianças tradicionais. Não negoceia. Impõe. Distribui taxas alfandegárias como uma espécie de punição a uns, e ameaça com elas vários outros antigos aliados da América.

A ascensão dos autocratas não acontece por acaso. Deriva da crise do modelo liberal-democrático, da ausência de resposta ao crescimento das desigualdades, do ressentimento com o sistema político, da percepção real ou empolada da corrupção das elites.

Os autocratas detetam as falhas, oferecem respostas simplistas, frequentemente demagógicas e populistas: um inimigo, uma promessa de grandeza e uma narrativa em torno de um líder capaz de restaurar a ordem.(...)".

Neste contexto é interessante ver as reacções do pequeno bando de fascistas portugueses entusiasmados com o ressurgimento de Trump. Há neles duas dimensões: por um lado afirmam-se nacionalistas - e muito do  que  escrevem deriva, explicita ou implicitamente, da sua sanha contra a União Europeia que, dizem, põe em causa a "Europa das Nações", a estas dando primazia, essencial, ôntica, até sacra. E é relevante que nesse eixo de entendimento saúdam, até efusivos, as políticas económicas de Trump porque serão boas para os EUA. Glosando a velha frase - que é verídica e não crítica - assumem que "o que é bom para a General Motors é bom para os EUA". Mas, dado o seu reiterado "nacionalismo", é evidente que dela retiram um silogismo: "o que é bom para a General Motors é bom para os EUA e como tal é bom para Portugal". Ainda não vi escrito o raciocínio económico - que  não o político, social, cultural ou religioso - que sustenta esta conclusão. E este é exigível, exactamente por os locutores se reclamarem - se fundamentarem - no tal seu arreigado nacionalismo. Quero fazer-me entender: não reclamo uma justificação de teor político, tipo "nós (governos portugueses, "europa") temos más/custosas políticas". É mesmo económico - assente em visões de curto, médio ou longo prazo. É que se não houver essa abordagem, todo este apreço "nacionalista" pelo anunciado rumo económico americano e seus hipotéticos efeitos em Portugal assenta numa aversão aos interesses económicos portugueses. Uma traição, intelectual que seja. Ou, dado que o termo "traição" caiu em desuso, tornado até anacrónico, é uma convocatória para a resposta: "estes tipos que vão para a americana que os pariu".

Há uma outra via que sedimenta os apreciadores deste influxo autocrático. Está esparramada noutro texto do pluralista "Observador", do nosso José Meireles Graça. Onde opta pelo registo "É para um amigo..." - e sou particularmente sensível a esse rumo pois também tenho alguns amigos, um pequeno  ramalhete, que assim seguem. Nesse texto identifica-se o apreço por Trump e quejandos como suportado numa "guerra cultural", contra o politicamente correcto (dito agora wokismo). Esse sobre o qual o democrata Pedro Correia escreveu "Tudo é Tabu", interessantíssimo roteiro sobre as aleivosias do extremismo "identitarista". Pois para aquele "amigo" - e para a fileira destes "amigos" - é tamanha a angústia diante dos discursos das minorias dos que têm ansiedades sobre as respectivas genitálias, dos esparvoados académicos que querem "denunciar" a história, ou dos radicais racialistas, ditos "identitaristas", que preferem apoiar gente como Putin. Pouco importa que este seja um ditador assassino, cleptocrata e imperialista. Pois é defensável dado ser presumível adversário do conteúdo do programa da disciplina do ensino secundário "Educação para a Cidadania" - que estes seus mais ou menos tímidos apoiantes, já agora, nem sequer conhecerão, apenas lhes disseram que é um espaço onde ensinam os rapazolas a enrabarem-se uns aos outros.  

E nisto tudo, para além da abjecção de se andar a botar elogios a um ditador como Putin, invectivam-se os críticos de Trump - nós estúpidos (quiçá até um pouco wokistas) porque ficamos presos a análise do seu perfil moral e intelectual e não aos presumíveis ganhos das suas  políticas (os tais interesses americanos imaginados como se portugueses fossem...). Pois não é um questionamento político aquele que fazemos, será apenas ligeireza "pessoalista". Neste peculiar eixo de entendimento do que é "política" é saudável, pois anti-woke, que o presidente do mais relevante país grunha "ninguém ouviu falar do Lesotho" e à sua volta todos ululem gargalhadas. E que se louve por ter cortado apoios à pesquisa sobre "ratos transgénicos" , e mais gargalhem. Pois tudo isso, os lesothos e os ratinhos de laboratório e tantas outras coisas, é entendido como "wokismo" - o que é ainda sublinhável por provir de gente que não se coíbe de contestar a "investigação científica" "financiada". E que tem a ufana incultura de o ... escrever. 

De facto, isto é puro grunhismo. Não o do Trump. Não o do (refinadíssimo) Putin. Mas o dos "amigos...". E é um grunhismo fascista. Desavergonhado. 

04
Mar25

Slava Ukraini!

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(Esta vinheta tem o mais belo Corto, exactamente após o fuzilamento do oficial alemão Slutter. "Slava Ukraini" jamais teria dito o Corto. Mas decerto que teria andado por aquelas paragens, a levar armas, informações, a socorrer alguém - presumivelmente uma bela e complexa ucraniana. E estaria agora com este olhar - escondido do sempre insuportável Rasputine, esse meu alter ego).
 
Quando começou a "operação militar da Rússia" na Ucrânia bloguei imenso sobre o assunto. Alguns textos reactivos - furioso com os dislates lusos que ia lendo (e que António Araújo coligiu). Outros "pedagógicos" ("presunção e água benta..."), querendo avisar os interlocutores como poderiam entender o real e presumir o futuro. ("Devias ser comentador", dizem-me alguns amigos mais próximos, solidários com o meu desarrumo. No que sempre concordo, o meu sonho, utopia mesmo, de sexagenário é ser comentador futebolístico. O "novo Ventura", até me imagino).
 
Na madrugada - após saber da cessação do apoio americano à Ucrânia - reli o que escrevi há três anos, entre Fevereiro e Abril. Faço uma súmula, que é também forma de lembrar o que se retira disto. E faço-o em registo assumidamente auto-elogioso:
 
1. Em termos globais propus a leitura de dois livros que explicavam, por antevisão, este processo. Ao invés dos que mergulhavam na bibliografia da "ciência política" e similares (Kissinger et al) recomendei "O Americano Tranquilo", de Graham Greene, que anunciou (nos anos 1950) o conteúdo das relações dos europeus com os EUA. E o "O Último Adeus" de Balzac, uma espantosa evocação da batalha de Berezina. Nesses dois pequenos livros estava tudo anunciado.
 
Poucos dias depois da invasão os russos estavam à porta de Kiev. Putin, implacável ditador imperialista que quer refazer Yalta - por anexação e por tutela -, discursou aos ucranianos, invectivando os seus dirigentes como "drogados" (mote que foi perdendo peso) e "nazis" (mote que se mantém para os cães-de-fila das ditaduras cleptocráticas e para alguns "idiotas (de facto in)úteis" que se julgam de "esquerda"). E apelou a que os ucranianos se sublevassem e aderissem às forças russas, como se estas "libertadoras" - ideia assente na negação de uma nação ucraniana, que é o que subjaz o regime russo neste caso. Foi o que se viu, três anos de incontáveis sacrifícios ... russos para este passo, que julgavam fácil, na tal (re)"Yaltização". Para compreender este processo será aconselhável ler o (não muito recente) ensaio biográfico de Plutarco, dedicado a Pirro.
 
3. Para a tal "salvaguarda do que for possível", há dias a Ucrânia viu-se enxovalhada, "desmontada" até, em Washington. À (extrema-)direita e à (extrema-)esquerda alguns rejubilam e outros sorriem diante do que dirão "o auto-golo à Zelensky" - como há três anos bolçou o execrável comunista António Filipe.
 
E nesse mesmo registo alguns textos disso celebratórios são patéticos - acabo de ver partilhado um particularmente disparatado, de militar comunista, esbracejando uma espécie de "sociobiologia", com pateta metáfora recorrendo à etologia, sob a simplória tese de que Zelensky é um estúpido incompetente e Trump um "animal territorial". A ideia, simples (mas não simplória), de que uma pressão para que um aliado ceda se faz intra-muros e não "alive", para "boa televisão", não é agora acolhida. Por comunistas e por fascistas...
 
4. Desde há muito que as gentes comunistas (os da III e os da IV Internacional) usam o marxismo economicista, básico, para "explicarem" os EUA. Que estes se reduzem à influência do "completo industrial-militar". Está visto que terão de calibrar a tese...
 
5. Após o início da guerra - e mesmo não tendo fontes especiais de informação - deixei algumas notas relevantes: as associações russas de antropólogos e de arquitectos e urbanistas pronuciaram-se contra a invasão, tal como Kasparov. O PC de Espanha também. Uma plêiade de intelectuais magrebinos - comunistas ou marxistas - também. Em Portugal o PCP foi russófilo - a direcção e os poucos intelectuais que ainda ali militam. E recebeu criticas por isso. É interessante ver o que se passa: se o PCP, por óbvias razões históricas, passara incólume a Budapeste de 56 e a Praga de 68, tal como ao Afeganistão de 1979, sofreu forte em 1989, mas foi resistindo, decaindo mas paulatinamente. Até este vergonhoso disparate de 2022: pois é evidente que já ninguém quer saber o que têm a dizer.
 
Muito parecido com o que acontece com os comunistas da IV, o BE. No início da crise russofiliaram-se - Mortágua, então ainda comentadora em "part-time" (não declarado, como tal ilegal) atreveu-se a usar o argumento hitleriano para justificar o imperialismo de Putin. Depois titubearam, diante das botas no terreno (mas ainda assim há sempre um "bloquista" a relativizar as coisas, a falar em "nazis" ucranianos ou a pluralizar os "imperialismos"). Tudo lhes teve evidentes custos reputacionais - para presumível gáudio do Prof. Tavares ali ao LIVRE.
 
6. Desde logo eu (e tantos outros) me espantei e enojei com a desbragada putinofilia - até vituperando o patriotismo ucraniano - de alguns generais comentadores televisivos - um até exultava com a "libertação de Mariupol", tanto lhe agrada Putin. Ditos "especialistas em assuntos militares" (caramba, são generais, seriam especialistas de quê?). Para quem ache que são "especialistas", comentadores avisados e assim neutrais, deixo um exemplo, o do general Costa - um avençado por instruções dos (ex?-)jornalistas Nuno Santos e Santos Guerreiro. Enquanto trata todos os interlocutores por títulos académicos (o sacrossanto "Chô Doutor/a") gozou a cena da Sala Oval, referindo "Vance", "Trump" e "o Zelensky", assim denotando o desprezo pelo "mimado" ucraniano, como o disse. Tal como referiu o "Senhor Macron" - em evidente glosa do célebre e justificadamente sarcástico "Senhor Hitler" de Fernando Pessa. Terminando, o escroque fascista, a tratar os líderes eleitos da democrática União Europeia por "cavalheiros" e - imagine-se - "madames", como se estas fossem epígonas da Maria Machadão de Jorge Amado. Há 3 anos que Nuno Santos e Santos Guerreiro agridem o país com este lixo moral. Pois são isto.
 
7. Um conjunto de intelectuais comunistas - Boaventura Sousa Santos, Soromenho Marques, a escritora Ana Margarida Carvalho, Isabel do Carmo, etc. - logo surgiram a dizerem-se "censurados", "perseguidos" e até (!) "criminalizados" devido às suas (esclarecidas, reclamavam) posições anti-ucranianas. Três anos depois - e independentemente dos tétricos problemas do ex(?)-enverhoxista Sousa Santos - será conveniente aquilatar da pertinência dessa auto-vitimização: qual deles foi perseguido, censurado? Processado? Despedido? Julgado, multado ou aprisionado? Para nos lembrarmos disso, da próxima vez que esses inimigos da democracia venham com a mesma ladainha.
 
Slava Ukraini! Com todos os defeitos que aquela gente e o seu poder possam ter!

01
Mar25

Trump & Vance vs Zelensky

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Trump e Zelensky batem boca na Casa Branca — Foto: Brian Snyder/Reuters

Poder-se-á dizer que hoje é um dia histórico. Pois não creio que até agora tenha havido um caso de diplomacia pública deste estilo. Trump e Vance agredindo Zelensky, para além da pressão e/ou discordância - e nisso, já agora, dando incontáveis trunfos ao regime moscovita. Uma coisa inaudita. E, para o meu gosto, execrável.

Um qualquer cidadão português nada pode diante disto. Não é apenas a irrelevância individual, é mesmo nem sequer ter voto. Aliás, um tipo até vota no seu país para depois perceber - e quase por acaso - que dos 37 tanques Leopards comprados só 2 estão operacionais, e que nem sequer têm munições. Ou seja, o voto também nem serve para muito.

Mas vendo a até inenarrável situação, abjecta, há algo a retirar para um vulgar cidadão português. Repito, nada se pode fazer diante dos poderosos do mundo. Mas pode-se diante dos vizinhos, outros meros cidadãos. Ou seja, diante dos energúmenos que para aqui pululam tecendo loas a Trump é necessário perceber que a sua imbecilidade não se restringe a isso. São tão energúmenos quando grunhem elogios sobre Trump como quando falam de uma qualquer "lei dos solos", "empresas imobiliárias" ou "junta de freguesia em Campo de Ourique", "Sócrates" ou "Montenegro", "Cristiano Ronaldo" ou "Roberto Martinez", "orçamento geral de Estado", "segredo de justiça" ou outra coisa qualquer. São umas bestas imundas. Desrespeitáveis. E nisso, na impaciência radical diante do pateta da mesa ao lado, o vulgar cidadão pode fazer algo.

Nem que seja franzir o cenho. Ou, como eu prefiro, "não ir à bola" com eles.

10
Mai24

A Rússia e África

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Putin espera "maior coordenação" com Moçambique no Conselho de Segurança da  ONU - SIC Notícias

Desde os meus tempos de petiz que foi evidente a minha inabilidade para as artes plásticas. A falta de talento terá também convocado a amargurada desmotivação. E tudo descambou, a ponto de no 8º ano ter chegado ao ponto - inusitado - de reprovar na disciplina de "Educação  Visual", notícia recebida pelos meus pais com notório desencanto. E devido a esse meu défice sempre me ficou vedada a opção de rematar debates com o sacrossanto posfácio "percebeste, ou queres que te faça um desenho?", tantas vezes necessário, principalmente quando se trata de explicar o óbvio, este para alguns tão difícil de apreender.

Sinto-o, recordo-o, agora, quando vários amigos - prenhes de verrina, até sádica (como já aqui lamentei) - me cutucam com a notícia de que a Iniciativa Liberal convocou o ministro dos Negócios Estrangeiros para que se apresente na Assembleia da República, explicando o que vai fazer face às negociações aproximadoras entre a Rússia e países africanos membros da CPLP. Enviam-me a notícia com comentários e invectivas, tipo "olha os teus amigos da IL", e imagino-lhes os sorrisos sarcásticos enquanto teclam. Sabem eles, e por isso me gozam, que louvei - enfaticamente - a intervenção parlamentar que há meses a IL fez relativamente às problemáticas eleições autárquicas em Moçambique (em 26.10.23 e em 30.10.23). Tal como, e já agora recordo-o porque  vem a propósito, muito louvei a intervenção no Parlamento Europeu que o agora ministro Paulo Rangel fez, relativamente aos conflitos no norte de Moçambique (18.9.20 e 3.10.20). 

Acontece que também sabem eles, esses meus amigos - e até eu o sei, caramba - que é pertinente uma intervenção parlamentar (em cenário nacional ou internacional), sonora, apelando à conjugação de esforços para obstar a situações de facto gravosas em contextos alheios, servindo isso para reforçar nossas iniciativas nacionais e tentando induzir posições alheias. E que é completamente diferente - impertinente, entenda-se - uma intervenção parlamentar, sonora (e querendo-se até tonitruante), para afrontar as legítimas relações bilaterais e multilaterais de Estados soberanos, nossos aliados. (E permito-me recordar que sobre esta questão escrevi "A CPLP e a Ucrânia" em 4.3.22). 

Ou seja, face à crescente interacção entre a ditadura russa e os nossos aliados PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa) é desejável que a diplomacia portuguesa acompanhe o processo, tente contrabalançar um pouco a situação. Na surdina que lhe é virtuosa essência. Mas é descabido, pois até contraproducente, que isso sirva para a agit-prop cá no burgo.

Mas mais ainda: são consabidas as fortes relações, económicas e políticas, entre a Rússia e o nosso aliado PALOP (país americano de língua oficial portuguesa), traduzidas num relativo apoio do Brasil à investida de Moscovo na Ucrânia, tanto durante a presidência de Bolsonaro como na de Lula da Silva. Vai a IL chamar o MNE Rangel ao parlamento para que este avance o que irá fazer diante dessa situação? Não, como é óbvio.

Enfim, o que mostra isto? Que se pode tirar a criança do Império, mas não se tira o Império da criança. É certo, pode-se ser optimista, ansiar que a criança cresça, amadureça, se ilumine. E é por isso, por essa minha episódica vontade de optimismo (antropológico), que faço este pedido: dado o meu acima referido défice gráfico será que alguém dotado o suficiente poderá desenhar uma ilustração deste óbvio e enviá-la à sede da IL? A ver se amadurecem?

(Post-scriptum: nas próximas eleições europeias votarei na IL).

03
Mar24

Sobre a Ucrânia

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Em 23 de Novembro de 2021, no âmbito da relevante Liga dos Campeões de futebol, o crónico campeão alemão e sempre poderoso Bayern de Munique visitou o Dinamo de Kiev, este pálido legado do glorioso clube da era do grande treinador Valeriy Lobanovskyi e sua estrela magna Oleg Blokhin. Logo nesse dia os cultos e perspicazes jornalistas portugueses nos explicaram a realidade. E nisso nos auguraram o vencedor da Taça, para gáudio dos praticantes do Placard. Entretanto os imbecis incultos - caricaturas de pensantes - torciam pelo Sporting. Ou pelo Porto, ou Benfica...

24
Fev24

Slava Ukraini!

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Há alguns anos (muitos, já, cada vez mais, raisparta) fui mais uma vez à Ilha de Moçambique. À porta da Fortaleza, então sob qualquer intervenção, estava isto. Resmunguei, decerto (eu conheço-me, ainda que mal), a um "portão" barrando o acesso ao agora sacrossanto "Património Cultural" ungido pela UNESCO, pintado com as cores das duas empresas de telefones (Vodacom, MCEL) que invadiam todos os recantos do país com as suas publicidades... Só muitos anos depois alguém me soprou que talvez isto fosse obra, "como quem não quer a coisa", de algum imigrante (quiçá ex-"coooperante") ucraniano, ali resguardado em coisas da construção civil... Talvez. E que belo argumento para um conto seria...

Lembro a fotografia hoje, dois anos após a invasão russa da Ucrânia. Para além dos russófilos actuais (essa mescla nada-excêntrica de bafientos fascistas e comunistas) vejo críticas à Ucrânia e aos seus aliados ("ocidentais") porque a derrota militar se apercebe como provável, exaurido o país. Não deixo de achar uma triste piada ao ver a rapaziada que se imagina de "esquerda", no afã do seu nojo pela democracia liberal dita "ocidental", a filiar-se assim no ideário do "sucesso", do "empreendedorismo" bem realizado, essa ideia de que a fraqueza relativa (a tal derrota militar contra um inimigo superior) significa a fraqueza absoluta, como se uma injusteza ôntica.

E também encontro nenhuma piada aos que vêm "denunciar" a propaganda pró-ucraniana, que para eles conduziu a isto. Ou seja, implicitam que se devia ter apoiado/exigido a rendição imediata. Como esse "eterno comentador" (e mau escritor, já agora) Sousa Tavares que do palanque televisivo veio perorar essa tralha. E tem lugar cativo como "fazedor de opiniões". Por falar de propaganda e estar a botar uma fotografia da Ilha lembro a abjecta consideração do escritor Agualusa, logo no início da guerra, botando no Globo brasileiro o seu lamento de estar na distante Ilha enquanto os "nazis" defendiam a Ucrânia, regurgitando a energúmena propaganda russa, forma canhestra de ser "Sul". Típica, aliás.

De tudo isto me lembrei há horas, ao ver no telejornal as comemorações (fogo-de-artifício e tudo) em Moscovo dos dois anos de guerra. Dezenas ou centenas de milhares de mortos sofridos, idem de baixas alheias causadas, por um regime que se propunha derrotar em três dias (!!!) um poder de "drogados", "nazis", e até "judeus". E comemora.... E estes escritores sofríveis, e intelectuais de merda, e seus enlevados leitores? Dizem o quê?

Slava Ukraini! Especialmente se vier a sua derrota.

24
Ago23

Estou inconsolável na morte de Prigozhin

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Na morte de Prigozhin fico inconsolável. Não tanto pelo desastre que o vitimou, e aos seus mais relevantes lugares-tenentes, cujas causas desconheço. E, num plano mais particular, não o estou por continuar a incompreender o que se passa na cabeça dos seus concordantes lusos, meus vizinhos, esses que lhe foram atribuindo razão - uma razão histórica, que seja - como este ramalhete encabeçado por Boaventura Sousa Santos, esse já patético decano (pós-)enverhoxhista que continua a clamar que a responsabilidade desta guerra de ano e meio é dos norte-americanos. Ou os seus inversos soberanistas, afinal farinha da mesma palha, esses crentes na "nação" impoluta, que abominam a democracia liberal e nisso encontram virtudes (para mim insondáveis) na demanda russa do seu ratzeliano (e hitleriano) "espaço vital", como dizia a actual coordenadora do BE Mortágua, então comentadora política a tempo parcial.

Sigo inconsolável pois não encontro o meu "O Príncipe" de Maquiavel - legado avoengo, assim uma perda irreparável desta edição de 1945, enriquecida pelos comentários ao texto em tempos feitos por Bonaparte. Já basto usado, lombada desgastada, páginas oscilantes, amarelecidas. E uma preciosa colectânea de sublinhados, apostos pelos sucessivos donos Flávio, António José e este José Flávio. Que lhe terá acontecido, em que andanças terei perdido o querido livro? - e recordo até que há anos alguns ex-alunos me confidenciaram, risonhos, ter eu ganho entre algumas turmas a alcunha de "Maquiavel", decerto que pelo empenho veemente com que perorava sobre o autor, pois nunca fui de tratar maquiavelicamente alunos, colegas ou outrem...

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Pois caído o avião que transportava o "cabo de guerra" russo, logo avancei para as estantes, em busca da literatura necessária para compreender o acontecido. Muito mais o Tácito de "Anais" e "Histórias" do que Suetónio. E, claro, Maquiavel, esse do qual agora me resta apenas esta selecta, publicada em 1890 mas com poucos excertos da obra magna, o evidente "O Príncipe". E lá estão os nacos que procurava, para me aconselhar nesta queda mercenária, sobre o exercício do poder e sobre a privatização da guerra, como agora se chama. Para os partilhar abdico do francês doméstico e acorro aos fundos digitais, os gratuitos pdfs disponíveis, traduções brasileiras talvez menos apetecíveis aos nossos olhos. Mas suficientes. Aqui deixo os excertos sobre Prigozhin, esse que há tão pouco cruzara o Rubicão...

"Quando seja louvável em um príncipe o manter a fé (da palavra dada) e viver com integridade, e não com astúcia, todos compreendem; contudo, vê-se nos nossos tempos, pela experiência, alguns príncipes terem realizado grandes coisas a despeito de terem tido em pouca conta a fé da palavra dada, sabendo pela astúcia transtornar a inteligência dos homens; no final, conseguiram superar aqueles que se firmaram sobre a lealdade. Deveis saber, então, que existem dois modos de combater: um com as leis, o outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo, dos animais; mas, como o primeiro modo muitas vezes não é suficiente, convém recorrer ao segundo. Portanto, a um príncipe torna-se necessário saber bem empregar o animal e o homem. Esta matéria, aliás, foi ensinada aos príncipes, veladamente, pelos antigos escritores, os quais descrevem como Aquiles e muitos outros príncipes antigos foram confiados à educação do centauro Quiron. Isso não quer dizer outra coisa, o ter por preceptor um ser meio animal e meio homem, senão que um príncipe precisa saber usar uma e outra dessas naturezas: uma sem a outra não é durável.

Necessitando um príncipe, pois, saber bem empregar o animal, deve deste tomar como modelos a raposa e o leão, eis que este não se defende dos laços e aquela não tem defesa contra os lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Aqueles que agem apenas como o leão, não conhecem a sua arte. Logo, um senhor prudente não pode nem deve guardar sua palavra, quando isso seja prejudicial aos seus interesses e quando desapareceram as causas que o levaram a empenhá-la. Se todos os homens fossem bons, este preceito seria mau; mas, porque são maus e não observariam a sua fé a teu respeito, não há razão para que a cumpras para com eles. Jamais faltaram a um príncipe razões legítimas para justificar a sua quebra da palavra. Disto poder-se-ia dar inúmeros exemplos modernos, mostrar quantas pazes e quantas promessas foram tornadas írritas e vãs pela infidelidade dos príncipes; e aquele que, com mais perfeição, soube agir como a raposa, saiu-se melhor. Mas é necessário saber bem disfarçar esta qualidade e ser grande simulador e dissimulador: tão simples são os homens e de tal forma cedem às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar." (cap. XVIII; "De que modo os príncipes devem manter a fé na palavra dada")

"Dissemos acima como é necessário a um príncipe ter bons fundamentos; do contrário, necessariamente, cairá em ruína. Os principais fundamentos que os Estados têm, tanto os novos como os velhos ou os mistos, são as boas leis e as boas armas. E, como não pode haver boas leis onde não existam boas armas e onde existam boas armas convém que haja boas leis, deixarei de falar das leis e me reportarei apenas às armas. Digo, pois, que as armas com as quais um príncipe defende o seu Estado, ou são suas próprias ou são mercenárias, ou auxiliares ou mistas. As mercenárias e as auxiliares são inúteis e perigosas e, se alguém tem o seu Estado apoiado nas tropas mercenárias, jamais estará firme e seguro, porque elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis; galhardas entre os amigos, vis entre os inimigos; não têm temor a Deus e não têm fé nos homens, e tanto se adia a ruína, quanto se transfere o assalto; na paz se é espoliado por elas, na guerra, pelos inimigos. A razão disto é que elas não têm outro amor nem outra razão que as mantenha em campo, a não ser um pouco de soldo, o qual não é suficiente para fazer com que queiram morrer por ti. Querem muito ser teus soldados enquanto não estás em guerra, mas, quando esta surge, querem fugir ou ir embora." (cap. XII: "De quantas espécies são as milicias, e dos soldados mercenários")

E agora vou ler Tácito. Um bom dia para os aqui visitantes.

24
Jun23

"Ir à bola com..."

jpt

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Há cerca de 15 meses, uns tempos após a invasão russa da Ucrânia foi anunciada uma manifestação em Lisboa, julgo que junto à sede do PCP, contestando posições explicitamente pró-russas que esse partido assumiu. Os promotores integravam imigrantes e recém-chegados refugiados ucranianos. Então eu escrevia num blog colectivo dedicado ao desporto sportinguista. Um dos co-bloguistas, um tipo com simpatia (e porventura militância) pelo PCP, escreveu no seu recanto pessoal refutando o direito dos estrangeiros se manifestarem contra os portugueses "que pagam os impostos". Indignado com aquela imundície fasciszante, que em muito ultrapassava  uma diversidade de interpretações sobre questões de política internacional, saí do blog comum, ainda que este excêntrico à temática pois monopolizado pelas coisas do futebol. Fi-lo pois sigo subordinado a um fundamental princípio, omnipresente ainda que apenas ocasionalmente de necessária invocação: o de que "não vou à bola com estes gajos". Um dito que neste caso tinha sentido literal! Alguns sportinguistas leitores contactaram-me, dizendo-me "exaltado", "exagerado", naquilo do "não havia necessidade".

Passaram os tais 15 meses. Nos discursos difundidos pelos líderes de Moscovo foi-se invisibilizando a inicial justificação para a acção militar - que os seus líderes julgaram que seria célere: a de enfrentarem um poder ucraniano "drogado" e "nazi", ilegítimo pois emanado de um "golpe". Primeiro sendo esquecido o item relativo aos psicotrópicos, este um tópico já antigo, herdado do propagandear desde o ocaso soviético da degenerescência "ocidental", dada ao hedonismo drogado - as pessoas que queriam passar para o lado ocidental faziam-no pelo anseio de terem acesso às drogas, era argumento de então, assumido por vários "quadros intelectuais" do PCP - e agora também à "homossexualidade", esta uma inovação invectivadora do mesmo teor sob a matriz discursiva de Putin.

E depois, de modo mais gradual, foi-se subalternizando a redução das particularidades políticas ucranianas ao seu nazismo - esta que fora uma evidente mobilização do nacionalismo russo, exponenciado na II Guerra Mundial, e às históricas tensões naquele terra, potenciadas já sob o sovietismo. E nisso vem ficando como legitimação da guerra o ser a Ucrânia um títere do expansionismo belicoso norte-americano e da UE, cujo apoio a Kiev é considerado a causa da guerra.

Após os tais 15 meses, de uma guerra terrível e de inúmeras ameaças russas de utilização de armas atómicas, e nas vésperas das recentes confrontações internas entre os próceres de Moscovo - e só por si é inenarrável a adesão de políticos portugueses a um regime que inclui um "warlord" como o é o chefe da empresa Wagner -, a inominável líder parlamentar do PCP vem invectivar a presidente do  Parlamento Europeu, continuando a perfilhar os tópicos discursivos do regime imperialista de Moscovo: o nazismo de Kiev, a responsabilização da UE (só não  refere a "droga").

Não haja qualquer dúvida, não sou eu o "exaltado". Pois não dá mesmo para "ir à bola com este tipo" de gente. Nem numa mera e pacífica geringonça bloguística, quanto mais em coligações políticas. Tamanho o asco que provocam estes malandros.

10
Jun23

Zuppi na Ucrânia

jpt

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Uma amiga informa-me que a recente missão do Vaticano à Ucrânia, anunciada como de contactos preparatórios para uma futura mediação pacificadora, é encabeçada por Matteo Zuppi. Surpreendo-me (e também ela). Vou ver e ainda torno a surpreender-me, agora ao invés. Afinal Zuppi, actual arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, ainda nem 70 anos tem, contrariamente ao que imaginava eu. Era assim ainda um jovem - particularmente se pensarmos em termos das hierarquias católicas - quando foi durante anos mediador nas negociações de paz entre Frelimo e Renamo. E pode-se dizer que "sabe da poda". Que o seu Deus o proteja e lhe dê sucessos nesta missão.

Bloguista

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