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Dez23
Um bom presente natalício
jpt
Neste 2023 o meu amigo Nuno Quadros publicou um livro de memórias, ao qual deu o belo título "Antes que a Gente Morra", Como eu disse quando li "o livro é muito de saudar, pois o Nuno “chegou-se à frente”, numa prosa desinibida de suave sorriso trazendo-nos as suas memórias dos agitados mundos em que tem vivido: do tardio Lourenço Marques até ao Maputo de hoje, cruzando os outros continentes pelos quais tem passado o seu agitado percurso, e nisso também evocando com extremo carinho gente de quem se gosta. E - também muito a saudar - sem com isso nos chatear com manifestos, diagnósticos, proselitismos ou sentenças… o livro é para ler, mesmo."
O livro foi publicado pela Dinalivro, pequena editora sem grandes capacidades de distribuição, de disponibilidades financeiras para publicidade e ainda menos de lóbi junto à imprensa "cultural" ou outra - e assim, que eu saiba, o autor não foi nem a "programas da manhã" (onde ficaria muito bem, já agora) nem à RTP2 (onde também não destoaria...), nem mesmo aos inúmeros "podcasts" que grassam (nos quais a sua verve se imporia, aviso desde já). E não contou com qualquer referência na imprensa escrita - ao invés do que teria acontecido se fossem as memórias de um esbirro colonial ou de um exilado antifascista desses tempos, pois para o pobre entendimento dos "culturais" d'agora um bem escrito e bem-disposto testemunho de um tipo despolitizado (que não apolitizado) não conta como "documento"... E como o Nuno não encheu o livro com aquelas piroseiras dos "ocres d'África", "ocasos recortados pelas casuarinas", "savanas a perder de vista" ou "a candura dos indígenas, perdão, africanos" também não colheu a atenção das secções dos (insuportáveis) "livros de viagens".
O Nuno veio agora a Lisboa, encontrámo-nos. Perguntei-lhe "como estão as vendas?", daqueles 1000 exemplares botados a público em Maio. "Tenho para aí uns 25 em casa" (que vende por envio postal), "a editora tem uns 140 ainda disponíveis" "e haverá para aí uns 100 distribuídos", sorriu.
E ri-me eu, dizendo-lhe que à escala se trata de um verdadeiro fenómeno comercial. Pois, grosso modo, tem a edição praticamente esgotada. Pequena editora, autor desconhecido (e despretencioso), publicidade inexistente, divulgação apenas entre-amigos. E 800 exemplares do saborosíssimo livro vendidos em 6 meses... Ou seja, parece-me que em 2024 já não será muito fácil encontrá-lo à venda.
Assim, e porque estamos a chegar ao Natal das prendas, deixo o aviso. Tanto para aqueles que viveram o período colonial (em Moçambique ou alhures), como para aqueles que depois vive(ra)m lá, ou mesmo para aqueles que são daquelas loucas gerações dos 1970s ou 1980s, "Antes que a Gente Morra" comprem agora um livro - para si próprios ou para prenda, aos avós ou aos netos, ou aos amigos ainda distraídos deste. Até porque depois da sua leitura o livro serve de um bom mote de conversas, das memórias próprias e alheias. Sem quaisquer saudosismos, que disso está o livro isento...
(Deixo a ligação para o livro no "site" da editora para encomendas. Ou ide às Bertrands e FNACs. Ou mesmo até ao autor. Esgote-se-lhe o livro, a ver se ele escreve outro - que histórias não lhe faltam. Despachai-vos, para que os exemplares cheguem antes da Consoada)
Adenda: obrigado à SAPO pelo destaque dado a este postal.