26
Fev25
Um egolátrico nos Correios
jpt
Sempre gostei dos "Correios" - talvez efeitos de uma infância feliz, muito composta pelas estadas em São Martinho do Porto, onde tínhamos casa, junto ao mercado, já no início da subida para o Facho. Durante as quais ia eu, petiz ufano, a acompanhar os meus pais nas habituais, obrigatórias mesmo, idas aos "Correios" - sitos junto à baía, após a célebre "Rua dos Cafés" (de facto Vasco da Gama). Iam eles lá para... telefonar aos meus avós, todos já septuagenários! Tão diferentes eram esses tempos. Depois era obrigatório sentarmo-nos no café (o do "Careca", opção de classe do meu pai...). Onde eu tinha direito, desde a mais tenra idade, a um "garoto" (como se chamava então ao actual café pingado). Bebida que me fazia sentir imensamente "crescido".
Terá sido o recordar de todo esse mimo que me levou a tanto apreciar este velho - e então já algo anacrónico, mas resistente (na época, ainda que já em XXI, ainda não se dizia "resiliente") - marco dos CTT, colocado no campus da Universidade Eduardo Mondlane, ali diante do edifício onde reside o Departamento de Arqueologia e Antropologia, no qual leccionei durante 15 anos. Tanto dele gostava que lhe dediquei um postal de blog há já... 19 anos! Caramba!
Enfim, estas memórias "postais" vêm a este propósito: como aqui bastante tenho referido, há meses que autopubliquei um livro sobre as minhas andanças. Vale o que vale, mas diverti-me a escrevê-lo. O qual se vende através do sistema de "impressão por encomenda" por... via postal. E nisso colheu muitos mais leitores do que esperava eu.
Há dias - e tanto para deixar de incomodar os interlocutores com o assunto como para aproveitar uma (pequena) promoção da plataforma editorial - perguntei "nas redes" se haveria ainda algum interessado, mais renitente a estes passos de aquisição via internet. Pois se houvesse uma dezena trataria eu da encomenda e sua distribuição... postal. Pagam-me, dão-me a respectiva morada, eu trato do resto.
E até ontem surgiram 48 interessados no meu "Torna-Viagem". 48!, fiquei estupefacto.
Ontem mesmo telefonei a um velho amigo, a indagar se quereria ele acompanhar-me ao lançamento do novo livro de um outro olivalense. Perguntou-me ele como ia isto do "Torna-Viagem", contei-lhe. Ripostou "estás a ver, ainda bem que alguém te convenceu a publicá-lo assim!" (fora ele, claro), um "assim" de autoedição por encomenda, sem editora, algo sempre socialmente desvalorizado. Rimo-nos. E avançou "ganhas algum taco com isto?", ao que respondi "Nada!" (tradução aproximada do inglês "Peanuts"). "És pago em ego", concluiu, sagaz. "Sim", gargalhei, sigo egolátrico, nisso por ora abonado. Para variar!
E, em assim sendo, para o final da próxima semana, exemplares impressos e recebidos, lá andarei eu em busca de marcos dos "Correios" a enviar livros. (E se calhar a perguntar aqui se haverá alguma boa alma, disponível para ser portador de alguns para Maputo, onde há amigos a "mandarem ir").
(O "Torna-Viagem" pode ser encomendado através desta ligação)
[Adenda: e não é que quinze minutos depois do postal já arranjei portador para Maputo?!]