Ler os livros de Vasco Pulido Valente muitas vezes me indispôs. Mas nem sempre. Lembro-me do espanto com que li, há décadas, o seu "Estudos sobre a Crise Nacional" - textos escritos entre 1965 e 1970, mais ou menos, da sua juventude, sobre António Sérgio, António Vieira, etc.. "Caramba, que intelecto!", pensei, face àquela juventude já assim. Mas lembro-me também (e escrevo de cor) do incómodo com que li vários dos outros seus livros (falo dos mais literalmente historiográficos, não das crónicas sobre o agora): todos aqueles agentes portugueses, individuais e colectivos, me apareciam como dotados de uma ... incompetência, inabilidade. Excepto, claro está, o próprio historiador. Talvez esteja errado, seja apenas uma memória minha. Mas é a que ficou. Desse desagrado.
Com uma enorme e fabulosa excepção, este "Glória" que só li em 2014 (julgo que será para aí de 2000 ou perto), quando regressei de Moçambique. A biografia de Vieira de Castro, o político do terceiro quartel de XIX, líder estudantil de Coimbra, publicista, grande orador demagogo, deputado, criminoso, que morreu, já degredado, em Angola (correspondente de Camilo, e só depois de o ler isto descobri/reparei cá em casa o livro de bisavô das cartas que Castelo Branco lhe enviou).
Absolutamente profético, esse livro. Ou por outra forma, uma maneira absolutamente iluminada de usar a História para falar da actualidade. Para a esta dissecar. Como viemos, alguns de nós, a perceber. Outros não, continuam assim. Como ele tanto os desprezou.
Grande, enorme, Vasco Pulido Valente.