(Fotografia de António Cotrim, Lusa)
O deputado Ventura clamou contra a chegada de estrangeiros - que não turistas, entenda-se - a Portugal. Entende-a como uma ameaça grave e um disparatado desperdício de recursos públicos. Para além de questões de princípios e do ordenamento jurídico internacional, será de olhar para os argumentos que costumam alimentar esta recusa dos estrangeiros (repito, que não dos turistas).
Portugal tem apenas 5,4% de imigrantes. É um dos países da União Europeia que menos concede direitos de nacionalidade a estrangeiros. É, notoriamente, um dos países da União Europeia com menor fluxo de imigrantes (e a UE não é um dos maiores destinos de imigração - surge em 12º lugar neste documento, mas é uma posição algo artificial, mas é uma indicação que serve para matizar a ideia feita de ser o alvo primordial da mobilidade). É um dos países europeus com menor número de refugiados e de pedidos de asilo. Os estrangeiros residentes não têm elevada criminalidade. E a taxa de desemprego não está muito elevada.*
Já agora, e como quem não quer a coisa..., Portugal tem, pelo menos desde XIX, uma longa experiência de emigração (Brasil, América do Norte, Europa Ocidental, África, sucessivamente). E continua a tê-la - ainda que os propagandistas avençados pelo PS e os agitadores profissionais do BE continuem a reduzir a emigração em XXI a efeitos do satanismo liberal de Passos Coelho. Disso resulta termos centenas de milhares (pelo menos) de cidadãos emigrados e milhões de seus descendentes no estrangeiro - com direito a requerer a nacionalidade, se o entenderem. E é neste país, com este historial e este presente, que se botam estas tralhas.
Ou seja, o paleio de Ventura nada mais é do que um animar das suas hostes (morcãs). É um aldrabismo, boçal. Um vácuo tonitruar de quem pouco ou nada tem para adiantar sobre a situação nacional e sobre o que é necessário avançar. Isto é uma bosta intelectual e um escarro moral. Aliás, é André Ventura.
*As estatísticas vão variando de ano para ano, e de fonte para fonte. Deixo estas ligações, encontradas em rápida pesquisa no Google. Se o meu objectivo fosse fazer um ensaio, a selecção de fontes estatísticas teria de ser mais cuidada, fundamentalmente em termos da sua coerência. Mas isto é um postal de blog, assim sendo mais do que suficiente a opção por fontes avulsas, desde que credíveis.