05
Out22
Viva a República
jpt
A recente morte de Isabel II, pela dimensão simbólica da longeva soberana e também pela cuidadosa e complexa ritualização das suas exéquias, promoveram não só o reforço do apreço generalizado pela defunta como também uma vaga de simpatia para com a envolvente monárquica.
Por isso, e agora que já passado o período de nojo, impôs-se uma verdadeira comemoração do dia da República, qual "cerrar fileiras" à ordem de uma "primeira forma" adequada. Com esse intuito o rancho deste 5 de Outubro foi condignamente celebratório. O saudável, e genuinamente selvagem, contingente de massacotes - já em tirocínio para besugos - fora arregimentado no vizinho mercado ribeirinho, ao qual aportara nessa mesma alvorada. Por conselho de verdadeiro arrais de mesa foi evitada a parafernália da assadura e tratou-se da sua fritura, apesar dos preconceitos discriminatórios que vão atingindo esta manobra. A guarnição apresentou-se em formato de arroz pátrio (carolino, pois então) de feijão, debruado de pimento vermelho e em estado algo malandrete, tudo isto orlado com uma muito saudável salada aspergida de uma balançadíssimo vinagrete.
Encetado o repasto o debate incidiu sobre as dificuldades dos cozinheiros surdos (ou mesmo dos moucos). Pois, frisou o mestre e chefe de mesa, são vincadas as exigências auriculares da correcta fritura do peixe, aquela que produz - como ali recebíamos, em comovente comemoração da res publica e da privada também - uma pele qual crocante mas preservando a frescura e sabor da carne piscícola. Algo apenas alcançável, diz quem o sabe, se captado o momento, sonoro, da inflexão do crepitar no frigir.
Enfim, depois a conversa versou outros temas, generalistas. Este cidadão, republicano q.b. e mouco em demasia, permitiu-se ao trio de massacotes. Esplêndidos. Viva a República!!!